O perfil de Sérgio Bernardes, neste documentário de Gustavo Gama Rodrigues e Paulo de Barros, é reconstruído com base em depoimentos de amigos e colegas e algumas antigas entrevistas gravadas com o próprio arquiteto. O neto, Thiago Bernardes, também profissional da arquitetura, funciona como uma espécie de mestre de cerimônias. É dele que parte a indagação sobre o esquecimento em que caiu o legado do avô.
Um dos méritos do filme é não esconder as contradições do personagem. No Brasil, entende-se que as biografias devam ser unidimensionais, como se as pessoas não fossem seres complexos e contraditórios. Aqui, Bernardes é visto de corpo inteiro. Inovador, excessivo, vaidoso, mulherengo, bigger than life, como se costuma dizer. Mas da mesma forma alguém que não se recusou a fazer projetos para os militares durante a ditadura, tentou ele próprio seguir uma folclórica carreira política e tornou-se visionário autor de projetos sem viabilidade.
É paradoxal como personalidade tão ostensivamente egoica tenha forjado um conceito genial como o de "arquitetura invisível". Ou seja, aquela que passa despercebida e se oculta, ou se mimetiza com o meio ambiente de modo a não agredi-lo. Traduz uma ideia de arquitetura humanista, que respeita cidades e pessoas. Mas esta é uma das facetas do homem. No extremo oposto, ele propõe um projeto para o Rio de Janeiro que transformaria a cidade numa alucinante metrópole futurista, digna dos quadrinhos de Flash Gordon. Por sorte não saiu do papel.