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Opinião|Arraes e a Batalha de Argel

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Esta ótima história me foi contada (via e-mail) pelo amigo Aurélio Vianna. Partilho-a com vocês, com autorização do autor:

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"Caro Zanin, espero que você esteja bem.

Hoje fiquei lendo o que apareceu na internet sobre A Batalha de Argel, pois gosto muito do filme e queria saber mais sobre seu diretor. Encontrei seus textos e lembrei-me de uma conversa com o saudoso Dr. Miguel Arraes, com quem tive a honra de trabalhar por pouco mais de dois anos... Dr. Arraes adorava a Argélia e a história da Argélia... Conversávamos sempre sobre o período em que ele esteve exilado em Argel. Durante uma dessas conversas, Dr. Arraes contou-me que estava em Argel quando da filmagem de A Batalha de Argel (1965) quando soube - ou presenciou? - o seguinte: Durante a filmagem (realista) da ação de repressão dos franceses à resistência, o diretor precisou que tanques de guerra cercassem o Palácio de Governo... o que foi feito.Concomitantemente à filmagem, ocorria um golpe de estado contra o famoso presidente argelino Ben Bella (1963-65).

O militar golpista - Cel. Houari Boumédienne (ex) aliado de Bella na FLN - entrou no Palácio e,aproveitando "mobilização de tropas - tanques" decorrentes da filmagem ameaçou a guarda presidencial: "o Palácio está cercado, podem ver pela janela os tanques nas ruas, rendam-se para não haver derramamento de sangue". Os tanques "cenográficos" realmente estavam nas ruas e parecem ter tido um efeito político-militar imediato. O Golpe de Estado foi um sucesso,o presidente Bella foi deposto e esta ficção cinematográfica quase documental parece ter se misturado à realidade também de outra maneira...

Infelizmente, não tive oportunidade de voltar a esse assunto com Dr. Arraes,mas sempre que tenho portunidade procuro verificar quanto desta história tão nteressante e contada com tanta inteligência guarda de realidade Histórica..."

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Comentário meu: como diziam meus ancestrais italianos, "si non è vero é ben trovato". Mesmo se não for verdadeira, a história é ótima. E um filme também se faz da mitologia que se cria em torno dele. Há outras histórias, estas documentadas, sobre Batalha de Argel. Uma delas:o realismo do trabalho de combate aos guerrilheiros (inclusive as torturas mostradas) era tanto que a CIA usava o filme em suas aulas para instruir os agentes sobre a melhor maneira de lutar contra subversivos. A vida imita a arte. E vice-versa.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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