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Cinema, cultura & afins

Opinião|Ardil 22

Não se pode dizer que a reputação crítica de Ardil 22 seja exatamente grande. Pauline Kael queixa-se da "montagem grandiloquente", destinada a impressionar o espectador. O resultado, para a crítica da  New Yorker é um filme "pesado e pretensioso, que acabou sepultando as ironias (do livro)."

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Atualização:

É interessante registrar essa opinião contemporânea à estreia do filme de Mike Nichols, porque a impressão que se tem hoje em dia é bem diferente. Ardil 22, na visão generalizada dos cinéfilos, é um poderoso libelo, que usa de forma conveniente as armas do absurdo e do humor negro para demolir a insanidade da guerra.

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O filme é de 1970, quando seu tema andava na ordem do dia da contracultura norte-americana. Se é verdade que os Estados Unidos nunca deixaram de se envolver em conflitos, desde o século 19, é fato que na passagem da década de 60 para a de 70, o apoio do público interno à Guerra do Vietnã era bem baixo. Essas intervenções militares ficavam mais visíveis e sob o crivo da crítica. É nesse quadro que a obra de Nichols, adaptada do livro de Joseph Heller, deve ser entendida.

É um filme contemporâneo da sátira cruel de Mash,de Robert Altman (1970) e precede Corações e Mentes (1974), o extraordinário documentário de Peter Davis. Vietnã é a histórica pedra no sapato dos Estados Unidos, mas [ITALIC]Ardil 22[/ITALIC] fala na 2ª Guerra Mundial. Ora, guerra é guerra, todas podem parecer absurdas e portanto caber no mesmo saco.

Assim, tratando um absurdo por outro, Nichols mostra a história de Yossarian (Alan Arkin), a que deseja a qualquer custo escapar da guerra. Como fazê-lo? Alegando insanidade. Mas toda pessoa que deseja escapar da guerra dá prova inequívoca de sua sanidade mental, portanto a alegação não vale. Esse é o ardil.

Parece simples, mas não é tão evidente assim. Ao contrário do que afirma Kael, Nichols filma com precisão o livro de Heller. Se é impossível adaptá-lo literalmente, contenta-se em pinçar fragmentos que formam um todo bastante interessante.

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Revendo-o ficam claras suas qualidades.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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