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Opinião|Aproximação: metáfora do Oriente Médio

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
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 Foto: Estadão

É, no mínimo, curiosa a maneira como o filme começa. Um velório, numa grande casa, em ambiente decadentista que pode lembrar Visconti. Trata-se da cerimônia da morte de um pai e nele se encontram a filha, Ana (Juliette Binoche), e seu meio-irmão, um soldado israelense. Há qualquer coisa aí que não se ajusta bem. Ana parece feliz e descontraída demais para a ocasião. Sua relação com o irmão é carregada de sensualidade.

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Por um determinado motivo, Ana deverá seguir o irmão até a Faixa de Gaza, onde ele participa da remoção de colonos israelenses. Uma operação também esquisita, pois são israelenses que devem desalojar israelenses. Gitai mergulha nesse ambiente de paradoxo, simbolizado na figura de Ana, que lá está sem saber muito por que, pois nem judia se considera. De qualquer forma, ela não pode deixar de se sentir tocada pelo que vê. Tudo é caos e paradoxo. Ninguém se entende, e Ana menos que os outros, pois nem hebraico sabe falar.

Os planos-sequência iniciais dão lugar a cenas entrecortadas, rápidas, como se o filme se tornasse mais fragmentário e quebradiço. Há uma tensão permanente no ar pela desocupação iminente. Todos imprecam e gritam uns contra os outros. Um carro enguiça, e ninguém se entende. A fluidez da narrativa se esgarça à medida que Ana penetra em território desconhecido, no qual ela vai descobrir alguma familiaridade, afinal de contas. Tudo neste filme, em sua forma e em seu conteúdo, produz uma impressionante metáfora sobre a situação no Oriente Médio. Gitai filma cada vez melhor.

(Caderno 2, 12/3/2010)

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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