Extraordinária, sim, é a presença do franco-austríaco Amor, de Michael Haneke, em cinco categorias - melhor filme, filme estrangeiro, roteiro original, diretor e atriz (Emmanuelle Riva). É já um reconhecimento marcante para um filme que tem tocado muito as pessoas com sua história sobre a velhice, a perda da independência física e psíquica, e a morte. Falado em francês e ambientado em Paris, com dois atores magníficos do cinema dito "de autor" (Riva e Jean-Louis Trintignant), Amor fala de coisas que nem sempre queremos saber, através de uma direção seca e aguda de Haneke (de A Fita Branca), cineasta pouco disposto a concessões.
O curioso é que, dois meses atrás, a revista Cahiers du Cinéma deu matéria de capa a Amor, não para celebrá-lo mas para detratar seu diretor, tachado de "falso humanista". Através de um raciocínio tortuoso, reprovam a Haneke a maneira como conduz a triste história da decadência da personagem de Riva, assistida pelo marido, vivido por Trintignant. Um grande absurdo, exemplo de análise moral (quando não moralista) que tantas vezes compromete o senso crítico dessa que é uma das mais tradicionais publicações de cinema do mundo. Seria incrível o filme ser reconhecido pela Academia de Hollywood e não pelos Cahiers, uma revista fundada, nos anos 50, pelo grande intelectual católico André Bazin. O paradoxo dos paradoxos.