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Opinião|Alvim e Goebbels: quando o fracasso sobe à cabeça

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:
Goebbels (à direita) e seu chefe, Adolf Hitler. Foto: Estadão

 

Por sua paráfrase de Goebbels, ministro da propaganda de Hitler, Roberto Alvim, secretário da Cultura, caiu. Ultrapassou o limite de boçalidade num governo que costuma desconhecê-los. Afinal, o ex-chefe de Alvim chegou a elogiar torturador antes de se eleger e nada lhe aconteceu. 

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Nessa época de confusão mental, de fato, limites parecem não mais existir. Considerem o que falam Damares, Weintraub, Araújo, Salles et caterva e vejam se têm cabimento em qualquer país civilizado. No entanto, nada os atinge. Vale tudo: Jesus na goiabeira, terraplanismo, negacionismo da questão climática, ignorância profunda do vernáculo, etc. Um circo de horrores, cuja lona se mantém estendida e o picadeiro em plena atividade. 

Alvim pôde se sentir estimulado por esse ambiente de permissividade autoritária e achou que podia tudo. E, de fato, podia, quase tudo. 

Em sua autoconfiança extremada, cruzou uma das poucas fronteiras-tabu e, através da paráfrase de Goebbels sobre a arte, alinhou-se, talvez sem querer, a um ideário banido. Este sim banido para valer, proibido por lei na Alemanha e execrado em todos os países, pelo menos nominalmente. Foi um tremendo mau passo, mas que, como sintoma, trai o que se passa por aquela cabeça confusa em suas convicções mais profundas. 

O fato de ter caído, quando era prestigiadíssimo, significa que o governo pode ser maluco, mas não rasga dinheiro. Nem mantém apoio a quem significa alto desgaste político. Afinal, a repercussão negativa do vídeo de Alvim foi ampla e incluiu dos setores da cultura (que Bolsonaro não leva em conta) ao presidente da câmara, Rodrigo Maia, juristas, associações israelitas e até a embaixada da Alemanha. Pegou muito mal. 

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Alvim dançou por excesso de confiança. O fracasso subiu-lhe à cabeça. 

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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