Sem alcançar a genialidade de seus mestres, Mario Monicelli e Dino Risi, o diretor de Almoço em Agosto, Gianni di Gregori usa da ironia e do riso moderado para mostrar uma Itália de classe média sob um foco tão crítico quanto amoroso. Ele próprio interpreta Giovanni, um sessentão no desemprego e com problemas de dinheiro, que vive com a mãe idosa. Devendo dinheiro ao condomínio, tem de ceder à chantagem do síndico e tomar conta da mãe deste também. Por uma série de circunstâncias, sua casa se transforma numa espécie de abrigo da terceira idade, ou, como se convencionou chamar por aqui, "da melhor idade".
O recurso cômico, nesse tipo de história, é o trabalho com a diversidade de temperamentos. Entre as senhoras idosas, há desde a depressiva até a assanhada. E com essas diferenças é que Giovanni terá de se haver. A sensação cômica não esconde o marasmo em que vivem durante o verão, quando todos saem da cidade. Tudo isso passa em filigrana, de maneira discreta, como se o diretor nada tivesse a provar ou a demonstrar. Flui como uma boa história, que se basta a si mesma.
Essa simplicidade faz parte do próprio estilo de filmagem de Di Gregorio. Ele é claro, fluente, sem qualquer rebuscamento. Não cede ao facilitário televisivo, mas nem pensa em procurar o extremo oposto que seria a estilização de se mostrar "cinematográfico". É o que é. Um exercício de técnica simples, posto a serviço da história que tem para expor.
O que conta, mais que tudo, é a maneira desdramatizada como a idade avançada é vista. Na verdade, Almoço em Agosto, meio que de lado e discretamente, entra na discussão sobre as novas atitudes em relação à velhice. Até certa época, o ser humano, depois de certa idade, estava condenado ao desaparecimento. Seu papel social se restringia ao de vovô e vovó e a pouco mais que isso. A sexualidade e o prazer de viver eram privativos dos jovens e velhinho assanhado, como dizia Vinicius de Moraes, só era tão chato quanto criança precoce. Hoje isso mudou e se instalou um ufanismo que também parece bem distante da realidade, ao ignorar os achaques da idade e o próprio preconceito que a sociedade mantém em relação aos seus cidadãos mais longevos. A "solução", como sempre, tem sido a hipocrisia politicamente correta, que fala da "melhor idade" e joga os inconvenientes para debaixo do tapete. Di Gregorio não ignora nem os problemas e nem o fato de que idosos continuam a ser criaturas desejantes. O filme é salutar.
(Caderno 2, 7/8/09)