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Cinema, cultura & afins

Opinião|Aleluia, Chico Xavier!

Parece que Chico Xavier, na visão de Daniel Filho, está arrebentando nas bilheterias. Já teria feito mais de 500 mil espectadores nesse final de semana, o que aponta para um recorde nacional. Abaixo, o que pensei sobre o filme.

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Existem algumas sacadas inteligentes na construção da dramaturgia de Chico Xavier. A sua vida é contada tendo por âncora um programa da TV Tupi, o Pinga-Fogo, do qual o médium efetivamente participou. A partir daí, pode-se voltar às diversas etapas da sua vida, da infância sofrida ao encontro da vocação, passando pelas resistências da Igreja e adesão de fiéis, quando se muda para Uberaba.

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Como o cinema tradicional trabalha melhor com dramas individuais do que coletivos, introduz-se o conflito de um casal (Tony Ramos, diretor de TV do Pinga-Fogo e sua mulher, Cristiane Torloni), que perdeu um filho em condições trágicas. Ele não acredita em espiritismo e tende a considerar Chico um charlatão; ela não abre mão de estabelecer um contato com o filho que perdeu. Tudo isso pode sustentar o interesse do grande público - pois afinal é para ele que o filme se destina. Deve ser lançado com um número entre 300 e 400 cópias, o que, para um produto nacional, chega a ser um superlançamento.

É um filme bem-feito, no sentido da sua construção. Daniel Filho, que não é um inovador, sai-se bem na fluência narrativa. Afinal, é um homem de televisão e entende do riscado. Ao mesmo tempo, vacina-se contra possíveis problemas. Por exemplo, Chico Xavier é uma figura muito popular, mas ainda não tolerada pela Igreja Católica, que não abriu seus templos às filmagens. No entanto, esse conflito é atenuado no filme - ele pouco aparece, na figura do padre vivido por Cássio Gabus Mendes.

Da mesma forma, as arestas possíveis da personalidade de Chico são aplainadas. Mesmo os santos têm suas contradiçoes (basta conhecer a vida de santo Agostinho ou de são Paulo, ou Jerônimo, filmada por Bressane), mas a vida de Chico, descrita pelo filme, é retilínea. Seguramente, o Chico Xavier real deve ter sido uma personalidade muito mais fascinante que aquela vista na tela, segundo a  ótica de Daniel Filho.

É cinema diet, como de hábito.

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Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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