Luiz Zanin Oricchio
16 de junho de 2022 | 08h48
Vi A Suspeita no Festival de Gramado do ano passado. Segue o texto.
A Suspeita, dirigido por Pedro Peregrino, é uma espécie de noir à brasileira, com excelente ideia de partida. Lúcia (Glória Pires), uma policial de 55 anos, está metida numa investigação perigosa. Além do mais, luta contra o Mal de Alzheimer, que avança de maneira rápida e implacável.
Lá no fundo, que talvez esteja na superfície como diria Nietzsche, a questão é a memória. Um tema universal, mas brasileiro demais, visto que somos conhecidos como povo sem qualquer traço de amor em relação à memória, à história e ao autoconhecimento, coisas interligadas.
Lúcia avança em sua busca, mas tropeça em falhas de memória. E, também, na resistência dos superiores, já que a linha de investigação a leva à cúpula da polícia.
O argumento é de Luiz Eduardo Soares, sociólogo que se dedica ao tema e entende do riscado. A filmagem é bem realizada. Em particular com os planos-sequência que seguem os personagens de perto, como se anunciassem os labirintos que se encontram pela frente da policial honesta, determinada e…desmemoriada.
Essas limitações (em particular a memória que se esvai) entram na linguagem do longa, mas, a meu ver, não o suficiente. Talvez uma opção mais radical o fragmentasse demais na opinião de quem pensa em sua carreira comercial. E talvez seja verdade mesmo, porque não se vê mesmo muita disposição do público para o pensamento e para as coisas difíceis hoje em dia. Mas, certamente, seria um filme melhor.
A destacar, a atuação contida (às vezes até demais) de Glória Pires, por certo uma atriz de muitos recursos. E também para o trabalho de câmera com seus planos e enquadramentos muito eficazes. Falta, ao conjunto, um pouco de pulsão – para não usar outra palavra também terminada por ditongo nasal.