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Opinião|A paradinha e o futebol-chatice

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Como vocês sabem, a Fifa proibiu a paradinha na cobrança de pênaltis. Ou melhor, regulamentou. A "finta" pode ser dada na corrida, mas não no chute. Pelé fazia desse jeito, na corrida, e foi ele que inventou, ou popularizou, a jogada que há décadas incomoda os cartolas da entidade. Paradinhas como as de Neymar ou Fred, por exemplo, seriam, a partir de julho, irregulares. E ainda valerão uma advertência (cartão amarelo) ao atleta que a praticar.

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Cada um vai ter a sua opinião a respeito e a minha é que se trata de mais uma regulamentação feita para prejudicar o futebol-arte. Não é lindo um gol de paradinha? Só falta agora proibir o drible, a cavadinha, o passe de três dedos e outros recursos e classificá-los como antidesportivos. Teríamos assim a vitória não do futebol-força, mas do futebol-chatice, que é como eles gostam da coisa.Tudo direitinho, planejado, retilíneo, sem surpresas. Chato à beça.

Os europeus são craques na organização do esporte e fizeram do futebol esse jogo bilionário, que movimenta cifras enormes. Vitória econômica que é também uma vitória de Pirro, pois responsável pela descaracterização do futebol nos países mais pobres e também pela perda de identidade das seleções nacionais, processo ainda em curso.

Não gostam da alegria e, quando pela força da grana, importam nossos craques, a primeira providência que tomam é tirar tudo o que existe de espontâneo no jogador e fazê-lo um aplicador da tão decantada disciplina tática. Com raras exceções (o Barcelona é a mais óbvia) transformam o cara em robô.

Esse é o paradoxo. Compram a nossa alegria, mas não podem suportá-la, por uma questão de temperamento. Por isso ninguém melhora seu futebol jogando na Europa, apesar de um monte de baba ovos aqui no Brasil pensar o contrário.

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A regulamentação da paradinha é só um sintoma dessa postura, útil para entendermos o que pensam esses luminares do futebol. Dependesse deles, o futebol seria um esporte chato, sem criatividade ou inovações.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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