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Cinema, cultura & afins

Opinião|A casa de Rodrigo M. F. De Andrade e seu Guignard

OURO PRETO. A antiga Vila Rica é uma cidade mágica e sempre nos surpreende. Ontem, em um restaurante, havíamos encontrado a cineasta Alice de Andrade. Perguntamos onde estava hospedada e ela respondeu que estava na casa do avô, claro. E nos convidou para visitá-la. Por pura coincidência, Rô e eu ficamos num hotel vizinho à casa de Rodrigo M.F. De Andrade, criador do Serviço do Patrimônio Histórico Nacional (Hoje Iphan) e seu presidente por 30 anos. Rodrigo (1898-1969) é pai do cineasta Joaquim Pedro de Andrade (Macunaíma, Os Inconfidentes), de quem Alice é filha. Ela está em Ouro Preto para apresentar seu documentário 20 Anos, bonito trabalho sobre a memória de Cuba, país onde ela estudou e morou.

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Hoje de manhã, depois do café, saí para a rua, onde me encontrei com Erika Rodrigues, do Canal Brasil, e sua filhinha, Julia. Erika, uma querida amiga, me disse que estava lá para gravar uma entrevista com Alice, na casa do seu avô. Pedi para pegar carona na entrevista e aproveitei para conhecer a casa. Entramos. É uma daqueles magníficas residências antigas de Ouro Preto, restaurada em 1940 por ninguém menos que Lúcio Costa, o urbanista de Brasília.

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Visitamos os cômodos, dispostos em três andares, com vista estupenda para a cidade. E vimos, com deslumbramento, o mural Marília de Dirceu, pintado por Guignard numa janela cega da residência.

Saí com a sensação de haver ganho meu dia. Justamente nesse dia em que a Folha de S. Paulo divulga pesquisa em que 50% dos brasileiros se dizem envergonhados de seu país. E, de fato, é vergonhoso o estado a que foi levada a Nação após o golpe parlamentar de 2016.

No entanto, aqui em Ouro Preto, vejo outro país, este certamente do qual devemos nos orgulhar. Não apenas pela beleza do seu patrimônio histórico, mas porque evoca figuras como Rodrigo M.F. De Andrade, que acreditavam no Brasil, o amavam e tinham um projeto para o seu futuro. Tudo isso hoje nos parece perdido. Mas essa gentalha um dia passa, e o país continua. Talvez mais pobre e mais sofrido. Mas continua.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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