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Opinião|'1982', a guerra das pessoas comuns

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Atualização:

Estamos no Líbano em 1982 (o ano dá nome ao filme) e as pessoas mantêm-se em suas ocupações normais. Uma professora (Nadine Labaki) se empenha junto aos alunos. Ela tem problemas com o irmão, que se juntou a uma milícia radical. Tem lá suas arestas a serem aparadas com um colega com o qual, ao que parece, mantém um romance. 

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E há as crianças, pré-adolescentes, com seus primeiros namoricos e confrontos próprios da idade. 

O ambiente é o de um colégio por certo de classe alta, com toda a infraestrutura, inclusive piscina e quadras de esportes. 

Nesse espaço fechado se dá o drama de 1982. Desencadeado quando começa a guerra com Israel e a antes pacata estradinha que levava à escola passa a ser frequentada por caminhões de tropas e blindados. O céu azul agora é cortado por ameaçadores aviões supersônicos. 

A questão é tirar as crianças da escola quando a guerra, já prevista, se torna realidade. Muitos pais não conseguem chegar ao local para apanhar seus filhos, os professores e funcionários não sabem o que fazer e o caos se instala.  

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A ideia do filme de Oualid Mouaness é flagrar a guerra não pelo lado dos seus protagonistas, sejam eles heróis ou vilões, mas pelo olhar daqueles que a sofrem - os membros da sociedade civil. E entre esta, as crianças e os professores. 

É como se uma normalidade, duramente mantida, quebrasse de forma abrupta e sacudisse as pessoas, tirando-as do prumo e colocando-as numa situação-limite. Para a qual, é bom que se diga, ninguém está suficientemente preparado. 

Muito boa a interpretação de Nadine Labaki, atriz e cineasta - é dela a direção de Cafarnaum. Mas todo o elenco, inclusive a parte infantil, parece bem afinado com o projeto de Mouaness. O estilo é convencional sem ser redundante. Flui bem, ainda quando limitado a um ambiente quase único. Aliás, joga de maneira hábil com o espaço clean da escola para expressar a tensão e o medo crescentes. Usa de forma parcimoniosa a técnica de animação para expressar o desejo (infantil mas não exclusivamente) de que apareça um super-herói para resolver a embrulhada criada pelos homens de carne e osso.  

Enfim, 1982 é uma visão original e nem por isso menos contundente do horror da guerra e dos estragos que produz sobre a sociedade civil. 

O filme, parte da Mostra Mundo Árabe, mas exibido na plataforma Sesc, pode ser visto aqui: https://sesc.digital/conteudo/cinema-e-video/42876/cinema-emcasacomsesc/52050/1982 

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Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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