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Opinião|Cine Ceará 2019: Peru manda forte concorrente ao festival

Canção sem Nome fala do sequestro de recém-nascidos no convulsionado país dos anos 1980

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:
Melinda León (com microfone) e Pamela Mendoza, diretora e atriz de Canção sem Nome Foto: Estadão

 

FORTALEZA - O Peru apresentou um filme muito forte como primeiro concorrente do Cine Ceará. Canção sem Nome, de Melinda León, baseia-se em fatos reais e fala do sequestro de recém-nascidos no Peru durante os anos 1980.

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As rádios anunciavam tratamento e internação gratuitas para grávidas e, após o parto, as crianças "desapareciam". Eram vendidas a casais sem filhos no exterior, com a cumplicidade da polícia e de políticos corruptos do alto escalão.

O filme adota um estilo ousado de linguagem cinematográfica, com janela quase quadrada 4x3 e fotografia em preto e branco (a cargo do fotógrafo Inte Briones, o mesmo de Vazante e Hebe - a Estrela do Brasil).

A personagem principal é interpretada por Pamela Mendoza, que tem formação em antropologia. Ela e o marido moram no interior. São pobres. Vendem batatas na rua. Quando ouve o anúncio no rádio,Georgina (Pamela) pensa que seus problemas estão resolvidos e viaja para Lima à procura da tal clínica "beneficente". Quando após o parto o bebê não lhe é entregue, desespera-se e busca ajuda onde pode. A polícia lhe parece indiferente. Sua única esperança parece ser um jornalista que se interessa pelo caso e inicia uma investigação.

 Foto: Estadão

No entanto, Canção sem Nome nada tem de um filme policial em moldes clássicos, embora tenha elementos desse gênero. É, mais, uma descida aos infernos de um país que vive em ritmo de pesadelo, com as cidades em regime de toque de recolher e um sistema político arbitrário que se legitima a pretexto de combater o terrorismo. A luta contra o Sendero Luminoso justificava tudo e, em seu nome, praticava-se o autoritarismo sobre a população.

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"Quis falar sobre todos os tipos de opressão, de direita ou de esquerda", diz a diretora Melinda, ao retratar a população pobre espremida entre duas forças em combate.

Sobre a opção estética, Melinda disse que o formato 4x3 evoca a tela de televisão que era o veículo através do qual as pessoas se informavam na época. Já o fotógrafo Inte Briones analisa que esse formato claustrofóbico força a entrada do espectador em cena. E também limita o horizonte dos personagens, que vivem como num pesadelo kafkiano, sem saída à vista.

Essa falta de resolução dá um tom dramático à história e um desfecho trágico à saga de Georgina. O filme foi muito aplaudido depois de sua exibição no Cine São Luiz.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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