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Opinião|Os Cariocas e outras bossas no É Tudo Verdade

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:
Os Cariocas, em sua primeira formação Foto: Estadão

 

Eu, Meu Pai e Os Cariocas, de Lúcia Veríssimo, ganharia se se chamasse Os Cariocas, Meu Pai e Eu. Inversões à parte, o doc é bela homenagem da atriz ao seu pai, Severino Filho, e ao grande conjunto vocal brasileiro Os Cariocas.

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Símbolo da expressão vocal sofisticada, Os Cariocas vieram antes da Bossa Nova, encaixaram-se nela com a elegância de uma luva bem desenhada e foram adiante quando a vaga da Bossa arrefeceu.

Liderados primeiro por Ismael Netto e, depois de sua morte precoce aos 30 anos, pelo irmão Severino Filho, Os Cariocas foram um marco de inventividade e bom gosto para todos aqueles que amam a música brasileira.

Daí, talvez, o excesso de entrevistas com personalidades (Chico, Caetano Gil, Menescal, Zuza, Nelson Motta (claro!), etc, que acaba por emparedar um pouco o filme. Arejado e com mais música, respiraria melhor.

Claro, não é preciso chegar ao genial radicalismo de Nelson Pereira dos Santos em seu doc sobre Tom Jobim, no qual a música diz a primeira e a última palavra, ignorando todo o resto. Os depoimentos em Os Cariocas ajudam a contextualizar e compreender, mas tendem ao excesso. A parte política, pós-AI-5, também atravanca um pouco o ritmo e parece colocada de maneira artificial, para constar.

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Apesar de tudo, sai-se do filme com uma sensação de alívio, de frescor, de encantamento. Um país que faz tal música não pode ser apenas esse horror das manchetes do dia a dia. Basta que o Brasil faça por merecer a Bossa Nova, o que, para falar a verdade, não parece nada fácil hoje em dia.

Relações Próximas, de Vitaly Mansky (Ucrânia). O cineasta visita parentes próximos na Ucrânia. O quadro é a da crise gerada pela reaproximação do país com a Rússia em 2013. Os sentimentos em relação à Rússia, de um país que fazia parte da União Soviética, são ambivalentes. E o filme capta essa ambiguidade. Uma personagem, por exemplo, fala, em língua ucraniana, que ainda forma seus pensamentos em russo. Mas os detesta.

Avante, Soviete! (Rússia), de Dziga Vertov. Filme de encomenda do Soviete de Moscou, mas que recebe um tratamento autoral do grande documentarista de Câmera-Olho. A prevalência da máquina, a fé no progresso, estão lá, num filme que é todo ritmo, movimento, ação. Imagens hipnóticas. Faz parte da grande retrospectiva de cinema soviético em comemoração ao centenário da Revolução de 1917.

Em um Mundo Interior (Brasil), de Mariana Pamplona e Flávio Frederico. Flávio, autor de docs como Caparaó (sobre a guerrilha e Iara (sobre a guerrilheira Iara Iavelberg), disse que, ao escolher tema para o projeto seguinte, não queria mais um filme sobre política. "Quero um filme sobre crianças!", disse, rindo. O fato é que escolheu, junto com Mariana, abordar o mundo infantil por um lado difícil, o das crianças diagnosticadas como autistas. A síndrome é complexa e apresenta muitas gradações de sintomas. Os cineastas escolheram como personagens diversas crianças, de diferentes regiões do país, classes sociais e comprometimento. Ouvem especialistas, mas o acompanhamento dos pequenos é que o há de melhor. Complexa é a mente humana. E mais comovente se torna o tema quando sabemos que se trata de um distúrbio na relação com o Outro. Vários dos meninos e garotas personagens do filme assistiram à sessão no Cinearte.

 

A programação com horários, cinemas e sinopses, você encontra aqui. Vale lembrar: os ingressos são gratuitos.

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http://etudoverdade.com.br/br/programacao/

 

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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