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Cultura, dívidas e dúvidas. Normal?

Sequelando brabo

O filme Prometheus, de Ridley Scott, um (a) prequel, traz a sueca Noomi Rapace no posto que já foi (será?) de Sigourney Weaver. Noomi é o novo tipo de deusinha (alô Zé Antônio!) cinematográfica, meio masculinizada mas sexy o suficiente para estrelar um clip dos Rolling Stones nua.  Sigourney tem o seu charme, apesar de alta - Mel Gibson teve de usar um banquinho para contracenar com ela (parece que Charles Boyer passou por esse mesmo problema com as estrelas do seu tempo também). Sigourney está um vulcão em Ghostbusters, que em sua (seu) sequel traz Kristen Wigg, outra gracinha. Mas o papel de Kristen está mais para o de Bill Murray do que para o de Sigourney na versão original. Em períodos diferentes, Wigg e Murray estrelaram Saturday night live, um celeiro de malucos, a começar pelo guitarrista G.E.Smith, que liderou a banda do programa e foi seu diretor musical por dez anos. Uma coisa que sempre me deixou louco foi o fato de G.E. excursionar como guitarrista acompanhante sem nunca perder o programa que, como o nome indica, era ao vivo.

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Por Redação
Atualização:

Casinha do Lorne Foto: Estadão

Foi assim em 1990, quando esteve no Brasil na primeira visita de Bob Dylan. A Never ending tour de Dylan daquele ano (pois ainda está na estrada), começou com a chamada Fastbreak tour, em que durante 30 dias foi apresentada nos Estados Unidos, Brasil, França e Inglaterra em shows seguidos - excetuando-se os sábados, claro. Consegui uma exclusiva com Dylan nessa vez. Cheios de ficar de plantão na porta do Hilton Hotel do centro, quartel general dos artistas do Hollywood Rock, eu e um colega resolvemos tomar um chopinho no Redondo, ali na esquina. Quando passamos pela porta lateral, Dylan saiu, de capuz, em direção a um ônibus que o esperava. Quando chegou bem próximo de nós arrisquei um "grande show ontem hein?". Ele latiu para mim e entrou no ônibus que partiu imediatamente. Virei para o meu colega e disse "temos uma exclusiva!". O jornal não publicou.

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Na época, Mr.Bob veio acompanhado por uma nutricionista, entre outras pessoas de sua mini entourage. Ficou trancado no quarto, alegando que São Paulo era uma cidade "violenta". Virou lenda sua visita à uma das boates de strip da região, a chamada boca do Luxo (seria a Vagão?). Na volta, havia um morto coberto por jornais e Dylan ficou repetindo, como minha mãe quando se julgava certa, "eu não falei, eu não falei?". O Brasil tem dessas. Não aconteceu uma coisa assim nas Olimpíadas com um agente da Força Nacional que morreu em um "lamentável acidente"? Pois é, "entrou numa rua errada". Ou com o fotógrafo que perdeu o olho por "se colocar em situação de risco?" - para ser exato, diante da notícia. Esse negócio de "entrar em rua errada" me lembra aquele aplicativo de trânsito e navegação que, além de levar as pessoas para quebradas por vezes perigosas, está provocando um mini-êxodo nos aristocráticos Jardins paulistanos - as ruas privê estão se tornando caminhos. Eu nunca uso porque parece que ele fica me dando ordens. Moro nesta cidade há mais de meio século e ele conhece outro caminho? Espertinho. Lembra quando meu pai me deu o primeiro violão, um Del Vecchio Dinâmico. Lindão. Só que veio junto com uma matrícula em um conservatório.

Sonhos Foto: Estadão

Depois de anos dublando o Elvis e dedilhando um violãozinho de plástico, em poucos dias passei a ter ódio de música. Felizmente meu pai me tirou do martírio e eu fui ter aulas com um sapateiro espanhol. De Almeria. Em um mês aprendi a tocar uma valsinha e arrumei uma briga para sempre. Precisa estudar? Samba se aprende na escola? Artista precisa ser artesão, artesão é artista? O que veio primeiro, o ovo? A galinha? O omelete? A galinhada? Como se o filme de minha vida não fosse Além da imaginação, mas, Faça a coisa certa, do Spike Lee, bem naquela cena que começa com Lee gritando com John Turturro, "dane-se você, a pizza e o Frank Sinatra!" e o Turturro respondendo, "dane-se o Michael Jackson", e entram os coreanos, os policiais, os asiáticos, todos se chamando de macacos, bichinhas e coisas piores. Petralhas, coxinhas, analfabetos em história, primatas, corruptos, inocentes úteis. Morou?

John Turturro é uma peça. Do the right thing abre com uma sequência mostrando Rosie Perez treinando box. Ela é outra peça, na linha de Michelle Rodriguez em filmes de ação, Shakira fazendo dança do ventre, Lili Taylor fazendo a Valerie Solanas ou a Marcia Gay Harden no Pollock de Ed Harris. Turturro é de uma geração de peças como Tim Roth, Steve Buscemi, George Madsen, da estirpe de Alan Arkin, Peréio, Jean Reno, Luiz Miranda, John Goodman, José Lewgoy, Jeff Bridges "velho" ("filho" do Mike Nelson, o Homem submarino). Finesse como Peter Lorre, Christoper Walken, Jeremy Irons, Humphrey Bogard e Sam Shepard. Shepard, por sinal, está na série Bloodline, dramalhão familiar ambientado naquela improbabilidade geográfica, Islamorada, Florida Key. Luta de família, parente é serpente, tudo tipo Revenge, que tinha como charme a exuberante Madeleine Stowe (uma vilã chamada Victoria é sempre bom). Isso não é novo na televisão. Lembro d' A caldeira do diabo (Peyton Place), que estourou nos cinemas nos anos 1950 com Lana Turner e Tuesday Weld, entre outras, e foi para as telinhas com uma Mia Farrow, como sempre, menina. Tuesday (não tem nada a ver com Robinson Crusoe) foi uma das namoradinhas do Elvis.

King Foto: Estadão

Não foi? Para mim foi, contracenou com o Rei em Wild in the country e eu tinha o disco com o tema para provar, I slipped, I stumbled I feel. Ah, as namoradas do Elvis! A primeira que mexeu comigo foi a Juliet Prowse, inaugurando minha admiração por brunnettes fatales. A Juliet não era morena? Pois nas páginas d'O Cruzeiro era. Adorava Cyd Charisse, Bettie Page, la Campbell (que andava com Sinatra, o presidente Kennedy e alguns gangsters ao mesmo tempo) e Christine Keeler, a mulher que inseriu a Inglaterra na modernidade - e você pensava que foram os Beatles hein! O escândalo Profumo foi o máximo da obscenidade. Keeler (olha a homofonia à 007) era tão perigosa que perto dela até a coleguinha Mandy Rice Davies, loira, parecia uma santa. Já quarentona, Mandy virou artista e apareceu em Absolute beginners, filme de Julian Temple, que não é filho da Shirley Temple.

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Top Foto: Estadão

Shirley não era uma deusinha e envelheceu careta, ao contrário dos coleguinhas Mickey Rooney e Judy Garland. Esse negócio de deusinha surgiu quando eu trabalhava em uma editora no Brooklin (paulista) e o oitavo andar, onde ficava o banco e a lanchonete, era chamado de Olimpo. No prédio ficavam um monte de revistas femininas e a revista top masculina do momento, o que originava um enxame de secretárias, produtoras e starlets (sempre quis usar esta palavra). "Por que Olimpo, Zé? (o Antônio citado lá em cima)". "Porque é habitado por deusinhas, ninfas, sílfides e outras entidades que alegram a nossa existência", respondia o sábio homem de imprensa. Deusa, meu amigo, é assim uma Gisele Bündchen atravessando o Maracanã ao som de Garota de Ipanema. Ou a Charlize Theron, vestida a caráter, em um comercial de perfume. Aliás Charlize também está em Prometheus. De Ridley Scott.

Coragem, gente. Não há nada a temer. Temer jamais.

 

 

 

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