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Uma geléia geral a partir do cinema

Zhang-Ke, ele é o cara!

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Fui ver ontem à noite o filme Still Life, de Jia Zhang-Ke, que venceu o Leão de Ouro em Veneza. Zhang-Ke pertence à chamada sexta geração do cinema chinês, posterior a Zhang Yimou e Chen Kaige (ambos da quinta geração). É habitué de Veneza e da própria Mostra, que exibiram seus filmes anteriores, Plataforma e O Mundo (o segundo recebeu o prêmio da crítica no ano passado). O cara é porreta. Você tem mais três oportunidades para confirmá-lo, assistindo a Still Life, daqui a pouco (15h10, no Arteplex 2), amanhã às 19h40 (Unibanco 3) e terça às 17h30 (CineSesc). E tem também o documentário Dong, que Zhang-Ke fez simultaneamente, na mesma região em que filmou Still Life, e terá sessões na terça (22h10 no Arteplex 3), na quarta (21h30 no Espaço Unibanco 3) e na quinta (17h50 no Arteplex 4). Still Life conta a história desse cara que chega a uma região da China que foi inundada pelas águas de uma represa. Procura a filha, de quem foi separado pela ex-mulher. Vai trabalhar num grupo que demole casas, prédios, tudo. Tudo isso é muito metafórico, a água, a filha (como símbolo de um futuro que parece impossível) e a demolição. O país que se demole é a China comunista, substituída por essa nova China capitalista onde está voltando a predominar o trabalho escravo. Nos EUA, já se proíbem produtos made in China porque são feitos por crianças em troca de comida, sem salário nem nada (e por isso são competitivos no mercado internacional). Zhang-Ke é muito crítico dessa nova China, sem chegar a ser por isso nostálgico da velha ordem. É muito jovem (tem 30 e poucos anos) para isso. É curioso que Still Life suceda a O Mundo em sua obra, porque, de certa forma, a temporalidade é inversa. A China demolida de Still Life cede lugar à de O Mundo, com seu parque temático que mostra um país em vias de se aculturar em nome da globalização. O Mundo é mais suntuoso, plasticamente. Still Life parece mais duro, mais documentário, apesar de imagens que parecem saídas de uma ficção científica. Uma coisa é certa - este cara sabe como usar a música. Não perca!

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