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Uma geléia geral a partir do cinema

Ufa!

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

GRAMADO - Tem gente que me encontra aqui no festival e pergunta o que está acontecendo. Quase dois dias sem dar notícias... Não vou entrar em detalhes, mas meu dia ontem foi punk. Tinha seis matérias e um total de mais de 20 mil caracteres para enviar para a edição de hoje do 'Caderno 2' e, no meio de tudo isso, queria dar uma olhada nos debates de filmes da noite anterior e ainda corria atrás do diretor de 'Aquele Querido Mês de Agosto', que estreou hoje em São Paulo - não sei se no Rio -, e Miguel Gomes foi um tanto difícil de encontrar. Estava no celular, fora de Lisboa, a ligação caía, um sufoco. À tarde, houve um encontro para debater a crítica e à noite o furacão Xuxa passou pelo 37º festival, para receber seu prêmio especial. Já fui chamado de contemporizador, não porque aprove integralmente o prêmio, mas por tentar explicá-lo. Reclamaria se Xuxa tivesse recebido um dos prêmios 'artísticos' de Gramado - os troféus Oscarito e Eduardo Abelin, o Kikito de Cristal. Ela foi premiada por seus quase 20 filmes e 28 milhões de espectadores. Xuxa fez uma série de exigências, o que foi antipático, e o festival acatou-as, o que foi pior ainda. Não houve coletiva, muito provavelmente porque ela não queria ser cobrada pelo expurgo de 'Amor, Estranho Amor' do conjunto de sua obra. Cada vez admiro mais Rita Lee. Todo mundo sabe da história dela com Arnaldo Batista, mas Rita, generosamente, liberou sua imagem e direitos de músicas para viabilizar o belo documentário 'Loki'. Xuxa alegou detalhes contratuais para impedir o DVD do filme de Khouri, impedindo que novas gerações de espectadores conheçam a obra de um autor importante do cinema brasileiro (e só por isso ela não deveria receber prêmio nenhum). O curioso é que a cena íntima de Xuxa com o garoto - a rainha dos baixinhos! - no bordel de Vera Fischer está no YouTube inteirinha, para quem quiser checar (sem trocadilho infame). Xuxa exigiu jatinho particular, carro blindado e o 'Jornal de Gramado' chegou a afirmar que ela teria cobrado cachê (R$ 60 mil), o que a organização desmentiu e realmente teria sido o fim. Ela adentrou no Palácio dos Festivais cercada de seguranças. Fez um discurso que não foi nada arreglador (era seu direito). Concluiu dizendo que era loira, era povo e era vencedora. De posse do troféu, voltou para sua poltrona, cercada por fotógrafos e cinegrafistas. Deu de cara comigo, sentado no meu assento. Parou, me abraçou e beijou e ainda disse alguma coisa no meu ouvido. Queria morrer, com todo aquele espoucar de flashes. O que ela disse foi gravado por um sujeito que estava na poltrona atrás e deve ter sido colocado na internet, não sei, porque não sou dado a navegar para checar (a palavra, de novo) o que quer que seja. Sei que o episódio Xuxa foi desgastante para mim, que passei o dia sendo parado por gente que queria 'repercutir', e se rendeu mídia para o festival - a vinda dela -, com certeza não foi das mais favoráveis. (Tadinha da concorrência. Mandou para cá sua repórter especial para cavar escândalo e perdeu o ti-ti-ti da festa...) Estou relatando en passant a história. Posso até voltar depois. Agora estou atrasado para os filmes da noite. Nem comentei os de ontem, o argentino 'Lluvia', do qual gostei, e o brasileiro 'Em Teu Nome', do qual não gostei nem um pouco e digo isso com dó. Quando falar direito sobre o filme de Paulo Nascimento, vocês entenderão. Hoje, tinha mais matérias, mais coletiva, mais um documentário - do qual gostei -, 'A Árvore da Música', o 'Corumbiara' do pau-brasil, e a coletiva de Ruy Guerra, que recebe o Kikito de Cristal daqui a pouco. Ruy foi ótimo, divertido, lúcido, teorizador (do cinema como um todo e do próprio trabalho, em particular). Imagino que ele não vá provocar um décimo da histeria de Xuxa no Palácio dos Festivais, mas para o cinema, independentemente de gostar menos ou não gostar nada de determinados filmes dele, sua importância para o cinema é muito maior. Bye, volto mais tarde.

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