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Uma geléia geral a partir do cinema

Tungstênio, para ler depois de ver o filme

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Havia encontrado Heitor Dhalia no Cinesesc, não sei mais se no dia do debate sobre Antes do Fim ou na apresentação do ciclo de Luchino Visconti, creio que o primeiro. Estava morrendo de dor - era a fase pré-cirurgia -, falamos brevemente, de longe, e ele me disse que tinha novidades. Devia ser a estreia de Tungstênio, que ocorreu na semana passada. Até chequei meus e-mails, não encontrei nada sobre a data, nem cabine. Quando vi na mesa de minha pauteira do C2, a Eliana, estava na capa da concorrência, a entrevista (com Heitor) e a crítica. Mesmo sem ter lido, achei idiota. Heitor Dhalia confunde HQ com storyboard, uma coisa assim. Essa relação da HQ com cinema não me convence muito. Plano, corte, montagem, mas e o movimento? Até Alain Resnais, que era gênio e amava as HQs, ao tentar fazer a dele no cinema - Quero Voltar para Casa, com roteiro de Jules Feiffer -, fez talvez seu pior filme. São linguagens diferentes e eu acho muito interessante que os universos Marvel e DC sejam construídos sobre HQs sem que, no lançamento dos filmes, ninguém faça essa ilação, exceto, talvez, nos temas. Já no filme brasileiro ela é feita, e para desqualificar. De minha parte, e sem desmerecer a importância da HQ original, acho que Heitor, em Tungstênio, fez sua homenagem a Glauber Rocha. Samira Carvalho, que faz Keira, a mulher de Richa(rd), Fabrício Boliveira, evoca Luiza Maranhão em Barravento, especialmente na sua corrida na praia. Mas Glauber entra leve, en passant, porque Heitor é pop e sua maior influência é Guy Ritchie. Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes. Tungstênio é um elemento químico que pode ser altamente tóxico, e nocivo. Desde o título, é um filme sobre um mundo em ebulição, prestes a explodir. Gostei, mesmo achando o personagem do militar, Zé Dumont, um tanto ambíguo demais, mas é curioso. Falei com George Moura, supervisor de roteiro, e ele me disse que o personagem era um, há um ano e meio, quando o filme foi escrito, e se hoje parece outro é por causa da realidade brasileira, que o atropelou, com todos esses malucos que pedem a volta do regime militar. Zé Dumont e Fabrício são ótimos - sempre! -, mas o protagonismo, na minha leitura, é de Wesley Guimarães, o Cajú - olha o spoiler! -, que toma aquele pau no desfecho. Cajú vaio entregar o maluco do Seu Ney, o Zé, mas algo ocorre que o faz recuar e é a sua maldição. Ele se fragiliza e, no fundo, se redime, como bom moço, bom filho, que é, apesar de tudo, nesse mundo violento. Bonito (mas trágico?).

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