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Uma geléia geral a partir do cinema

Transfuge!

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Vivo repetindo que Transfuge, embora não seja especificamente uma revista de cinema - como Cahiers e Positif -, tem hoje a melhor equipe de críticos da França. A revista é multicultural, tem sempre matérias ótimas de literatura, mas, no cinema, o redator-chefe Damien Aubel realmente excede. O curioso é que o diretor Nicolas Klotz participa do corpo redacional, mas não encontro as matérias dele. Havia comprado o número de maio, no aeroporto, em Paris, nem me lembro mais se na ida ou na volta de Cannes. Só fui olhar agora. Transfuge pediu a importantes autores - cineastas e escritores - que escolhessem a 'sua' Palma de Ouro. Podiam ser filmes que ganharam o prêmio, integraram o Palmares ou que deveriam ter integrado. Catherine Millet, que é matéria de capa com seu novo livro, Histoire de l'Oeil, mas o O é grafado como () - representação de vagina -, escolheu Bruno Dumont, L'Humanité, e produziu um texto acurado sobre a dimensão pictórica do cinema do autor. Melhores ainda são os textos de Charles Dantzig sobre os atores de Wong Kar-wai, especialmente Tony Leung; a releitura de A Doce Vida, de Federico Fellini, por Yannick Haenel; o teatro das crueldade de Akira Kurosawa em Kagemusha decifrado por Patrick Granville e os meus preferidos - o chileno Santiago Amigorena e a forma como o Othello de Orson Welles colocou sua vida de cabeça para baixo, a paixão (insuspeitada por mim) de Olivier Assayas por O Leopardo, de Luchino Visconti, e o diálogo que Robin Campillo propõe entre Os Guarda-Chuvas do Amor, de Jacques Demy, e Muriel, de Alain Resnais, tomando por base a personagem da mãe de Catherine Deneuve no primeiro e Delphine Seyrig no segundo. É uma coisa tão original que só um grande ficcionista poderia criar. E Trasnsfuge ainda entrevista David Gordon Green por seu novo filme, Joe, com Nicolas Cage, sobre o qual tenho ouvido os maiores elogios, e Forest Whitaker, que, com tantos filmes e aquela figura massuda, é chamado de 'Homem Invisível'. Querem mais? Pois tem. A revista também entrevista Dominique Fernandez pelo novo livro, On a Sauvé Le Monde, que se passa entre as duas primeiras grandes guerras, entre a Roma de Mussolini e a Moscou de Stálin. Na pauta, homossexualidade, Freud, Pasolini. Se o livro de Dominique for bom como sua entrevista é instigante, a leitura é obrigatória.

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