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Uma geléia geral a partir do cinema

Tradições

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Meu amigo Manoel Canabarro, que há quase 18 anos (em dezembro de 1988), me importou de Porto Alegre para a revista Imprensa, me disse, quando aqui cheguei, que ficasse uma semana para testar a cidade. Me advertiu que São Paulo era cruel e desumana, mas tinha sua beleza particular. Se eu gostasse, seria amor para sempre. Maneco tinha razão - virou um caso de amor, mesmo que Porto e o Rio Grande ainda sejam referências muito fortes para mim. Mas vamos ao capítulo 'cruel e desumana'. Agora de manhã, a caminho do jornal, passei pelo Largo Paissandu, na saída da procissão de Santa Ifigênia que faz parte do calendário da festa das culturas de São Paulo. A procissão é, em si, um espetáculo. Reúne cavalhada, carro de boi, afrodescendentes com sua Rainha-Congo e capoeiristas, trio elétrico (com música sacra!). Como engloba a festa dos caminhoneiros, é emocionante ver essas pessoas que puxam carrinhos nas ruas e que você cruza sem olhar - a chamada 'invisibilidade social' - num raro momento de integração, participando da festa. Mas não vai muita gente olhar, o que me leva a crer que São Paulo, tão consciente de sua riqueza e do sucesso de seus astros e estrelas, no fundo não tem muito carinho por suas tradições. Não sou místico nem religioso, mas volta e meia, no domingo de manhã, vou à igreja de Santa Ifigênia, no Largo Paissandu. É a igreja dos pretos (sem nenhuma conotação racista, por favor) de São Paulo. Acho aquele culto maravilhoso, mas ele permanece (talvez seja bom, para sua sobrevivencia) experiência de poucos. Não virou grande espetáculo, como a missa com canto gregoriano da igreja de São Bento, que, num domingo, tentei ir, mas tinha até manobrista e aí achei demais. Me lembro sempre de Irmão Sol, Irmã Lua, ruim, como todo filme do Zeffirelli, mas com algumas imagens lindas, que se pode carregar pela vida, entre elas a da igreja de São Francisco, cheia de fiéis e bichos,. em oposição à igreja dos ricos. No ano que vem, dedique um pouco de seu tempo, no terceiro domingo de setembro, de manhã, para descobrir, ou simplesmente apreciar, essa São Paulo ainda tão rara, para tantos.

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