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Uma geléia geral a partir do cinema

Tel-Aviv em Chamas

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

O título sensacionalista é só para chamar atenção. Sinto como se tivesse feito a escolha de Sofia. Desde domingo, vinha tentando emplacar no impresso o Festival de Cinema Judaico, sem êxito. Na segunda, entrou o necrológio de D.A Pennebaker, importante demais para ser ignorado. Para a edição desta quarta, minha capa de Simonal foi substituída pela da morte de Toni Morrison, a escritora afro-americana que venceu o Oscar da literatura, o Nobel. Sobrou um espacinho, e eu terminei privilegiando a Mostra Mundo Árabe, que começa hoje. Doze filmes, quatro totalmente inéditos e sete, mais da metade, dirigidos por mulheres, com direito a duas delas presentes, e podendo debater a islamofobia nos EUA e a condição da mulher na sociedade argelina, por exemplo. Mas aproveitei o texto para lembrar, quase como um pedido de desculpas, que está ocorrendo o Festival Judaico, e esses dois eventos simultâneos, dois mundos, duas culturas em choque, são a prova da diversidade que ainda tem acolhida nessa cidade. São Paulo - não vou dizer de todos porque as periferias seguem marginalizadas, senão excluídas. Com todo o caos político e social, e o rigor da lei aplicado aos inimigos, os suspeitos de sempre seguem sendo os jovens negros e pobres. Estamos vivendo tempos sombrios. No Festival de Berlim, em fevereiro, o Urso de Ouro foi para o israelense Nadav Lapid, de Synonyms. Em maio, em Cannes, o palestino Elia Suleiman levou uma menção especial do júri por seu It Must Be Heaven. Nenhum deles está nesses festivais ou mostras, talvez estejam na Mostra. Lapid, em Berlim, fez duras críticas ao governo israelense. Não é de hoje que Cahiers du Cinéma acusa a ministra da Cultura de Natanael de querer colocar 'filtros' no cinema. Compreensivelmente, o Festival Judaico possui um perfil conservador, privilegiando temas ligados à identidade cultural e religiosa por meio do Holocausto. Sou muito sensível ao tema, até piegas. Choro com essas histórias, porque a barbárie sempre me dói na alma. Mas existem questões de identidade, de gênero, de segregação na fronteira - a sempre explosiva situação nos territórios ocupados - que eu, pessoalmente, gostaria mais de ver retratadas nesse festival. Sou cinófilo. Cinéfilo, também, mas essa é outra história. Um dos filmes que mais quero ver nesta 23ª edição é História de Um Cão, às 18 h de domingo, na Hebraica. O menino judeu que tem um cão, ele vai com a família para o campo de extermínio. O cão é adotado por um nazista e ambos, menino e animal, cruzam-se no campo, e o cão 'judeu' passa a defender seu (eterno) dono. Uma bela história de amor, e fidelidade. Já gostei sem ter visto o filme de Lynn Roth. Outro programa atraente - esta noite, 21 h, no MIS. Tel-Aviv on Fire, de Sameh Zoavi. O jovem palestino que vai trabalhar numa novela popular entre árabes e israelenses. Todo dia ele passa no checkpoint e faz amizade com o militar de Israel que lhe pede para mudar o final, para que sua mulher, que não perde um capítulo, fique feliz. Estou falando de ficções, e aproveito para - talvez - justificar o título do post. Conheço Israel, e sei que Tel-Aviv é uma bolha de modernidade (e diversidade) num mundo em que a tradição é muito forte. A ideia da coexistência, o palestino e o militar, me parece simnpática. O Festival Judaico está pródigo em documentários - A Alma Imoral, de Sílvio Tendler, quinta, 8, 20 h na Hebraica; Você Só Morre Duas Vezes, de Yaiur Lev e David Deri, sábado, 10, também na Hebraica, 20 h, etc. O festival homenageia Christian Petzold, exibindo Fênix e Em Trânsito, dois filmes dos quais gosto muito. O problema são as escolhas. Muitos desses filmes passam só uma vez, batem com os programas da Mostra Árabe, do Festival Internacional de Cinema Negro (no Sesc Vila Mariana), da 8 1/2 Festa do Cinema Italiano, que também está começando nesta quarta. E ainda tem, esta semana, a estreia de Gabriel Villela, O Auto da Compadecida, no teatro do Sesc Pompeia, que estou louco para ver. Há que multiplicar-se, ou multiplicar-me, face a tantas ofertas culturais.

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