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Uma geléia geral a partir do cinema

Ségolène

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Países com tensões (culturais e sociais) muito fundas terminam por viver processos assemelhados, mesmo que sejam do 1º ou 3º Mundo. Estou pensando na França e no Brasil. A eleição que levou ao segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva elevou a temperatura - e às vezes baixou o nível - da discussão política no País. Agora são os franceses que estão indo às urnas no domingo, numa eleição polarizada pelo conflito esquerda/direita. Os especialistas dizem que o abismo entre as duas frentes está cada vez menor e análises feitas antes do primeiro turno já antecipavam que as questões trabalhistas são o pomo de discórdia das plataformas dos principais candidatos que, de resto, não têm posições tão conflitantes assim e enfrentam o mesmo problema. A França precisa de reformas estruturais urgentes. L'Express, Figaro, Le Monde, Nouvel Observateur, Libé, toda a imprensa vem batendo nessa tecla, e não é de agora. Como era esperado, a socialista Ségolène Royal e o candidato de centro-direta Nicolas Sarkozy estão indo para o segundo turno. A França está dividida. O mundo das artes está dividido. Cahiers du Cinéma deu uma capa sobre o que o cinema francês espera dos candidatos - uma defesa firme do seu direito de imagem e não uma submissão aos interesses de Hollywood, disfarçada como defesa da economia de mercado. As revistas mais populares voltam-ase para o apoio dos artistas. A edição de março de Première (a edição francesa) está à venda nas bancas brasileiras. Traz Emmanuelle Béart na capa, numa reportagem sugestivamente intitulada 'Mon Image et moi' (Minha imagem e eu), sobre a qual quero falar, mas depois. O que importa, agora, é uma chamada no alto, à direita - Exclusif: Les Artistes Face à la Politique (Exclusivo - Os Artistas em face da Política). Première lista quem apóia quem e não deixa de tomar partido. Abre as páginas dedicadas ao assunto com uma foto de Ségolène Royal ao lado de Jamel Debbouze, o grande ídolo de cinema dos franceses médios, supercampeão de bilheterias no país. Nas páginas seguintes, temos lá as fotos de Jean Reno, o mais hollywoodiano dos astros franceses, levando seu apoio a Sarkozy. E as do elenco de Indigènes (Tempo de Glória) fazendo campanha por Ségolène. Jamel Debbouze vestiu a camiseta. Conclama os jovens a votarem - 'Se vocês não se preocuparem com a política, a política se ocupará de vocês'. E Debbouze faz uma declaração divertida - 'Hoje em dia, Sarkozy me chama regularmente para jantar com ele. Em vão: tudo de que preciso, tenho no meu refrigerador." A polarização é tanta que Robert Guédiguian, cineasta de Marselha, de filmes como A Cidade Está Tranqüiila e Le Dernier Mittérrand, sobre o ex-presidente socialista, o homem da rosa, bateu forte. 'Claro que quero defender os jornalistas aprisionados em Cuba. Só não quero aparecer numa foto de apoio entre Catherine Deneuve e Sophie Marceau.' Nenhuma das duas apóia candidatos de esquerda.

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