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Uma geléia geral a partir do cinema

Salve Jorge!

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Tive o privilégio de conhecer Jorge Fernando em dois sets dele que visitei - Sexo, Amor e Traição e A Guerra dos Rocha. O segundo, há 11 anos, era o remake de um filme argentino de muito sucesso - Esperando la Carroza. Na tradição da grande comédia italiana - Parente É Serpente, de Mario Monicelli -, três irmãos vivem num jogo de empurra para ver quem vai cuidar da velha mãe. E aí recebem a notícia de que ela pode ter sido atropelada por um ônibus. É um horror, claro, mas também um alívio - vamos enterrar mamãe e seguir a vida em paz. Só que mamãe... Imaginem! Ary Fontoura, em travesti, era quem fazia a matriarca, e estava excepcional. Sempre achei que A Guerra dos Rocha foi um filme antes do tempo. Vieram depois Eu, Mamãe e os Meninos, pelo qual Guillaume Galienne foi multipremiado na França, e Minha Mãe É Uma Peça, que transformou Paulo Gustavo num fenômeno de público, de teatro e cinema, no Brasil. Por mim, Ary Fontoura teria sido melhor ator na APCA, naquele ano, mas, claro, acharam que eu estava louco. Jorge Fernando desenvolveu uma parceria notável com Sílvio de Abreu na TV. Fizeram novelas memoráveis - Guerra dos Sexos, que tinha cenas de pastelão com Fernanda Montenegro e Paulo Autran, Rainha da Sucata, Deus nos Acuda e A Próxima Vítima. O Brasil parou para ver quem era o assassino no último capítulo. Jorge Fernando e Sílvio de Abreu! Esses dois sempre tiveram no DNA a comédia italiana, a chanchada da Atlântida e o teatro rebolado. Para Jorge, como para Oscarito e Grande Otelo, o mundo era um pandeiro. Ele voltou às novelas, depois de um hiato de dois anos, consequência de um AVC, com Verão 90. Estava no hospital, em maio, fodido - me desculpem -, e às 7 da noite recebia aquela lufada de alegria. Era o horário em que Tuna Dwek também ia me visitar. Tuna, Jorge Fernando e seu elenco, em Verão 90, texto de Izabel de Oliveira e Paula Amaral, me deram alento num período que foi muito duro, difícil. Nunca tive tempo de lhe agradecer por isso (nem à Tuna, o que faço agora). Jorge Fernando morreu de parada cardíaca num hospital do Rio, no domingo, 27, aos 64 anos. O mundo das novelas fica menos divertido sem o seu riso. Salve Jorge!.

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