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Uma geléia geral a partir do cinema

Robbe-Grillet

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Nem postei nada sobre a morte de Alain Robbe-Grillet, o chamado 'pai do nouveau roman', ocorrida no fim de semana. Confesso que não sou o maior fã de 'O Ano Passado em Marienbad', mas não sou bobo de não perceber como o filme pulveriza as estruturas narrativas tradicionais. Aliás, a história de 'Marienbad' possui uma linearidade dramática que a estrutura narrativa subverte e é a forma, no final das contas, que faz a glória do filme. Acho até que existe uma possibilidade de discussão paralela à proporcionada por 'Cidadão Kane'. Quem era o autor daquele filme [TEXTO]- o diretor Orson Welles ou o roteirista Herman Mankiewicz?[/TEXTO] Quem é o autor de 'Marienbad' - o diretor Alain Resnais ou Robbe-Grillet, o autor do roteiro? Só como curiosidade, não me lembrava, mas ele foi indicado para o Oscar de melhor roteiro original, como lembrou a imprensa francesa. Eram tempos bem diversos, se pensarmos que, no começo dos anos 60, Bergman e Fellini estavam se enchendo de Oscars (de filme estrangeiro) e Robbe-Grillet concorria ao Oscar de roteiro. O próprio Robbe-Grillet investiu numa carreira cinematográfica e virou diretor em 1962, com 'L'Immortelle'. A partir daí, e pelos anos e décadas seguintes, levou ao limite seu gosto pelas tramas que se fazem e desfazem, multiplicam e confundem e pelos signos que se invertem ou adquirem novos valores e significados. O mais interessante em Robbe-Grillet é que, sendo ele o que se poderia chamar de 'formalista', na verdade não o era, pois em seu cinema o conteúdo sempre foi muito importante. Esse conteúdo em geral está associado a jogos sado-masoquistas e a um erotismo digno do Marquês de Sade. Foi o que a imprensa francesa destacou em seus obituários sobre Robbe-Grillet. Aquele velho senhor - estava com 85 anos - era bem perverso, ora se era. 'Glissements Progressifs du Plaisir' e 'O Jogo com o Fogo', com aquele bordel habitado por todo tipo de maníacos sexuais, mostram que ele era do balacobaco. O filósofo Bernard-Henri Lévy, que, além de amigo, produziu o último filme de Robbe-Grillet, lembra que ele, ao contrário dos 'intelectuais', era um sujeito muito físico que se renovava nos sets de filmagem. Safado!

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