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Uma geléia geral a partir do cinema

Retratos do século

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Mal havia salvado o post de ontem, sobre Garrincha e Pelé e já pensava que havia um detalhe importante que deixara de fora. Pelé, em seu tempo, já sinalizava para o futuro, não só para o futebol 'atlético', mas também o empresarial, daí seu envolvimento na aventura americana do Cosmos. Nesse sentido, ele sinalizava para a frente e Garrincha, a boemia do esporte, era o passado. Garrincha, Heleno. Me atraem esses caras como personagens trágicos. E Cantona, e Zidane, protagonista do mais belo filme de futebol que já vi. Integrava o júri da Caméra d'Or, em Cannes, em 2006, e os irmãos Dardenne não queriam nem ouvir falar do ensaio multimidiático de Douglas Gordon e Marc Parenno. A partida entre Real Madrid e Villareal, em 23 de abril de 2005, filtrada pelo olhar de Zidane. Um extraordinário documentário de esporte e uma obra-prima conceitual por meio dos quais, ou da qual, a dupla de diretores conseguia traçar seu 'retrato do século 21' (era o subtítulo ). Nada como o tempo. Gostei tanto de Dois Dias, Uma Noite, o novo filme dos irmãos Dardenne, com Marion Cotillard, e este ano em Cannes ninguém queria nem ouvir falar do foco social, embalado numa estética minimalista deslumbrante, de Jean-Pierre e Luc. De repente, para a maioria da crítica, eles viraram o 'ontem'. Mas é que os Dardenne também não viam nada além do cinema 'deles'. Era o ano de Paz Encina (Hamaca Paraguaya), de Albert Serra (Honor de Cavalleria), de Zidane. As mais radicais pesquisas estéticas, associadas a questionamentos sociais, existenciais e políticos. Paz Encina tem tido dificuldade para levar sua obra no Paraguai, um país sem tradição cinematográfica. Mas Albert Serra... El Cant dels Ocells e Història de la Meva Mort não fizeram senão crescer o mito do jovem (39 anos) de Girona, Catalunha, Espanha. Comecei no futebol e caí no cinema, que é minha praia.

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