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Uma geléia geral a partir do cinema

Reflexionar é preciso

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Estou há dias para acrescentar um post sobre 'Reflexões de Um Liquidificador'. Demorei para assistir ao filme de André Klotzel. Quando estreou, não estava aqui. Minha ex-mulher, Doris Bittencort, de Porto, vivia me cobrando - vai ver que é engraçado. Luiz Zanin Oricchio, quando comentei com ele, me disse que a estreia foi inovadora, sendo as sessões precedidas pela apresentação de pequenos esquetes de humoristas. Quando vi o filme, fui tomar café e o porteiro me falou para correr, porque já ia começar. Não sei, sinceramente, se os esquetes continuam ou tiveram data de validade. Klotzel é um diretor interessante e, depois de 'Memórias Póstumas', adaptado de Machado de Assis e narrado por um morto (Brás Cubas), quem  conta seu novo filme é o liquificador da cozinha da dona de casa Ana Lúcia Torre. Achei a atriz ótima, o filme bem feito, mas de alguma forma 'Reflexões' me deixou insatisfeito. O filme tem obviamente um lado 'Estômago', que Klotzel tratou de não exacerbar. Com isso, a impressão que tive é de que ele diminuiu o impacto do próprio trabalho. O filme não é tão cáustico nem tão divertido quanto acho que poderia e até deveria ser. Mas confesso que 'Reflexões de Um Liquidificador' me incentivou - me incentiva - a pensar na figura do 'narrador'. Gostaria de aplicar essa reflexão, quando a fizer, mais aprofundada, aos filmes do próprio Klotzel. Não sou um grande fã de 'Capitalismo Selvagem', mas sempre me perturbou o tratamento audiovisual - a própria direção de arte -, mais do que a linguagem intencionalmente paródica daquele filme, paródica em relação aos melodramas de TV, que o cineasta tomou como referência às avessas (para o que não queria fazer). Gostava da ideia de transformar o personagem de José Mayer num anti-Macunaíma, mas sempre achei o filme uma confusão. A diversidade das interpretações, a falta de foco na definição do próprio conceito de 'capitalismo selvagem', tudo sempre me pareceu mais caótico do que inteligente. Quem sabe Klotzel já estava experimentando ali sobre o papel, ou a função, do narrador?  Seria essa uma nova chave para se investigar, a posteriori, seu filme?

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