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Uma geléia geral a partir do cinema

Que Brasil você quer? O desses filmes assusta

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Não sei se Dib Carneiro continua divulgando meus posts de teatro, mas me impressiona muito como, ao encontrar atores, atrizes, diretores, todos me dizem que gostariam muito que eu visse suas peças. E eu vejo! Mas, claro, até profissionalmente, as prioridades seguem sendo os filmes. Vi ontem O Paciente, de Sérgio Rezende, sobre o assassinato do presidente eleito, nunca empossado, Tancredo Neves, por seus médicos. Sob Pressão era um thriller médico, com suspense e tudo. O Paciente é uma fria autópsia baseada em documentos oficiais, e por isso mesmo nenhum médico cujo nome é citado no livro de... que inspirou Rezende até hoje entrou com qualquer tipo de processo. No cinema, o alcance é maior, mas segundo o autor, na coletiva - me informaram, não estava lá -, ele não inventou nada. Quem quisesse/quiser protestar esbarraria/esbarrará na própria letra naqueles documentos que hoje pertencem à História. E o mantra de Tancredo em seu calvário - 'Eu não merecia isso!' Defensável, sólido como é O Paciente, confesso que não é o filme que esperava. Ao visitar o set, o diretor me havia enfatizado a importância de uma figura como Tancredo - um negociador - no Brasil de hoje, polarizado por radicalismos. Tancredo, no filme, sabe do significado de sua posse, sabe o Brasil que quer construir, e não teve tempo. E se a metáfora for outra? As vozes que médicos, magistrados querem calar? Havia seguido esse capítulo da tragédia brasileira à distância, pela televisão, porque ainda morava em Porto Alegre. Sempre me surpreendem aquelas imagens de Tancredo levado nos braços do povo, uma multidão imensurável, nas ruas de São Paulo, como se as Diretas já! tivessem desembocado naquele féretro simbólico. Coração de estudante! Quero falar de uma coisa/Adivinha onde ela anda... E à noite, após a tarde com reunião de pauta, redação, entrevistas e médico, fui ver O Banquete, de Daniela Thomas. Uma festa, um jantar para comemorar os dez anos de união de 'Mauro' e Bia. Mauro é Otávio Frias Filho, num momento delicado de sua vida, ameaçado pela Lei de Imprensa por haver afrontado o então presidente Fernando Collor de Mello. Otávio, perdão, Mauro é priápico, notório comedor de estrelas, embora o filme as reduza a uma. Achei a estética do filme interessante, mas temo estar emitindo juízo de valor moral sobre nossa classe dirigente se disser que achei aquela gente o fim da picada. Mauro, Maria, a crítica, e Bia,a atriz que tem orgasmos no palco, ainda possuem alguma coisa, resquícios de humanidade?, mas tenho até medo de pensar que a 'vaca' interpretada por Drica Moraes, como a chama Mauro/Otávio, possa ser baseada em alguma figura real. Foi curioso o efeito que os dois filmes, O Paciente e O Banquete, produziram no meu imaginário. A morte de uma elite responsável e a ascensão dos predadores... Se o Brasil atual cabe naquele banquete... Estamos mal pagos, porque f... não é de agora. Só estou pensando... quem vai fazer a crítica do filme na concorrência, como o jornal reagirá? Embora Mauro/Otávio talvez seja o menos problemático dos personagens, não creio que aquela seja uma imagem que a Folha queira ver projetada de seu ex-dirigente.

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