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Uma geléia geral a partir do cinema

Proust em Ratatouille

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Outro dia alguém falou que acha legal o fato de eu não ser preconceituoso como outros colegas da crítica e ter olho para ver filmes que os outros desprezam. Já falamos aqui sobre isso, até sobre os filmes ruins de que eu gosto (e vocês também gostam). Mas quando eu digo que achei Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado legal é só isso. Um filme de consumo com algum grau de inteligência e sensibilidade já é tão raro... Agora, o que vou dizer sobre Ratatouille é outra coisa. A nova animação da Disney/Pixar, que estréia amanhã, é maravilhosa. Acabo de escrever um texto para a edição do Caderno 2 que não quero repetir (seria antecipar, para vocês). Mas vejam bem. Eu acho os dois Toy Story legais, me diverti com Carros, mas a grande animação da Pixar para mim é Procurando Nemo, que me toca, talvez por seu pai, de um jeito que poucos filmes em live action me atinge. Aquele peixe que vai ao limite, que se supera procurando o filho é uma coisa tão genial que me comove. Tive a mesma sensação com Ratatouille. Achei o rato que quer ser chef um personagem muito simpático e divertido, adorei a cena dos ratos que, devidamente higienizados, invadem a cozinha para ajudar, mas, neste caso, o que faz a diferença é o crítico, que fala, no original, com a voz de Peter O'Toole. Vejam a versão dublada porque o trabalho do Garcia Jr., que dirige as dublagens da Disney no Brasil, é sempre eficiente - e Tiago Fragoso, que dubla o rato, me confessou que era um sonho dele dublar uma animação. Mas a legendada é imperdível para cinéfilos. Vocês já me falaram que o diretor Brad Bird tem outro desenho genial, mas eu não conheço. Acho que, neste, ele realiza o sonho de Luchino Visconti e Joseph Losey, reencontrando o tempo perdido de Marcel Proust. O filme tem uma cena que eu nunca vi, nem em live action. Achei uma coisa tão/tão extraordinária que tenho até medo de dizer - vejam! Mas é extraordinária, e tão sofisticada na sua simplicidade, que dá para entender por que Ratatouille, sendo uma unanimidade de crítica nos EUA - o que eu não sabia; vocês me disseram -, teve a segunda pior estréia entre as animações da Disney/Pixar.

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