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Uma geléia geral a partir do cinema

Prelúdios

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

CANNES - Vi que tem um monte de comentários sobre Dario Argento, mas ainda não li. É uma da manhã na França e eu quero dormir para levantar cedo e ver, às 8h30, Chacun Son Cinéma, o longa que o festival encomendou a 35 diretores de todo o mundo, pedindo-lhes que, em três minutos, rememorassem qual foi sua primeira grande experiência de cinema. Mas quero dizer mais uma ou duas coisas neste post, antes de dormir. Vi hoje vários filmes, além do de Michael Moore. O novo Kim Ki-duk, Breath (Souffle), retoma a vertente abstrata de Casa Vazia e lhe aplica carnalidade numa história muito estranha que envolve um casal e um condenado à morte que espera sua execução. O israelense Tehilim (Salmos) me parece sob medida para ilustrar o que disse, no primeiro dia, o presidente do júri. Para Stephen Frears, a arte do cinema baseia-se em dois fatores integrados. É uma mídia que usa gestos simples para expressar idéias complexas. É o que faz o diretor Raphael Nadjari. E vi também Actrices, o segundo longa da atriz Valeria Bruni Tedeschi como diretora, que fala de atrizes e mulheres que se confundem na arte da dissimulação. Cada um desses filmes merece análises mais demoradas, mas quero falar, a título de conclusão, dos Prelúdios. Antes dos filmes da competição, Cannes vem apresentando curtas de três, até quatro minutos, que são retirados de clássicos para mostrar como o cinema filma... o cinema. A cena do drive-in em Lolita, quando Sue Lyon, assustada com o monstro na tela, pega na mão de James Mason e ele discretamente tenta evitar que a mão da mãe dela (Shelley Winters) venha impedir o toque dos dois. A cena do padre censurando os beijos de Cinema Paradiso. A de Roma de Fellini, quando a família vai ao cinema para ver o épico mudo que narra o triunfo do cristianismo sobre o império romano. A de Buster Keaton, em Sherlock Jr., copiando os avanços do herói na tela, quando beija a mão da mocinha e se torna cada vez mais invasivo, até que aparece o resultado de tudo aquilo - o casal cheio de filhos - e aí o Buster trava, com aquela cara séria que só ele tinha. Esses momentos têm sido de puro prazer para o cinéfilo, repetindo o que Cannes havia feito em 1995, para comemorar o centenário do cinema. O problema é que esses curtas, ou clipes, não saem do Palais. Os direitos são liberados só para essas exibições. Mesmo para um festival como Cannes sairia muito caro adquirir os direitos para lançar esses Prelúdios em DVD. Caro, sim, mas posso assegurar que os cinéfilos de todo o mundo agradeceriam ao presidente Gilles Jacob e ao diretor artístico Thierry Frémaux.

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