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Uma geléia geral a partir do cinema

Panorâmica insana (2)

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Não sei se foi esquecimento ou se queria voltar ao texto anterior, sobre Panorâmica Insana. Bia Lessa sempre me desconcerta. Quatro pessoas que representam centenas num lixão (chic?). O Brasil? A humanidade? O mais belo momento (efeito) da intervenção é a 'onda' que varre o lixão e evoca o mar de plástico de Federico Fellini em Amarcord. A onda, qual um tsunami, afunda, purifica o lixão? Um bom tema para se questionar. Lá vou eu ser confessional - tive ontem à noite um momento de tristeza infinita. Tem/teve a ver com tudo o que se passa comigo. Parecia que ia sufocar. Passou. Tudo passa sobre a Terra, José de Alencar. Estou agora, aqui, com a Carta Capital dessa semana, aberta na página 16. A casta não se enxerga. A reportagem dá suíte à chamada de capa - A turma do 1/%. O Brasil dá vexame numa pesquisa sobre mobilidade social no mundo, mas há uma casta por aqui que vive no paraíso. Dentro, a reportagem de André Barrocal esclarece como o berço determina a renda mensal no Brasil e quão poucas são as chances de ascensão social - estudos confirmam que de cada dez filhos de famílias brasileiras miseráveis, 3,5 estão condenados e vão morrer miseráveis. Na página 18, estão estampados os 15 maiores ricaços brasileiros da atualidade. Dois são citados com frequência no blog - Walter (Moreira) Salles e João Moreira Salles, nenhum dos dois, na revista, com o crédito de cineasta ou artista, mas vinculados ao sistema bancário, Itaú Unibanco. Walter e João valem cada um US$ 5 bilhões, é, bi, e de dólares. Duas páginas depois, o texto informa que, nos últimos cinco anos, um período em que o PIB nacional andou para trás, os três clãs que controlam o banco, as famílias Setubal, Moreira Salles e Vilela, receberam R$ 9 bilhões em dividendos, tudo devidamente isento de IRPF, ou seja, as fortunas só aumentaram. (Dois presidenciáveis, Ciro Gomes e Guilherme Boulos, têm prometido taxar lucros e dividendos, mas essa é outra história, como diria Billy Wilder.) Não admiro menos João, como grande cineasta, o maior documentarista brasileiro - ele assimilou lições de Eduardo Coutinho e, como discípulo de Luchino Visconti, eu acho, ao filmar sua casta (Santiago, No Intenso Agora), as ultrapassou -, por ter nascido príncipe. É um homem digno, como seu irmão. Não são predadores como a maioria dos ricaços brasileiros. Mas, até onde sei, Walter e João se apresentam como diretores, artistas, autores (e o João, editor), não como banqueiros, que é de onde vem a fortuna. Não sou ingênuo de esperar que renunciem à herança familiar, mas... Completem o post como quiserem. Estou me sentindo no lixão, e nem sou dos brasileiros menos situados na pirâmide social. Tem muita gente (centena de milhões?) pior. Esse País é insano.

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