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Uma geléia geral a partir do cinema

Os Matadores

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Vim ao jornal para avançar num texto e aí fiquei postando, postando... Preciso parar por um par de horas, mas, antes, mais um. A sessão cinéfila do Espaço Unibanco mostra hoje, à meia-noite, Os Matadores, do Beto Brant. Gostei bastante do novo filme do Beto, em parceria com Renato Ciasca, Cão sem Dono, mas sei que somos poucos - em conversa com o distribuidor, há uns dez dias, fui informado de que o filme estava fazendo em torno de dez mil espectadores. Dez mil! Só?! Lamento pela dupla de diretores, que se empenhou num trabalhado tão sensível e delicado, mas lamento mais ainda pela dupla de atores, Júlio Andrade e Tainá Müller. Os dois são tão maravilhosos. O Brasil inteiro devia estar curtindo essa dupla e não míseros dez mil espectadores, uma insignificância, mas é a realidade do mercado, ou da participação do cinema brasileiro no próprio mercado. Temos o blockbuster - que este ano está sendo A Grande Família -, um punhado de filmes com números expressivos e o restante, o grosso da produção, com obras muito interessantes, fazendo essa miséria. Feito o desabafo, voltemos à sessão cinéfila. Acho até que vou lá. Por mais que tenha gostado de Cão sem Dono, meu filme preferido de Beto Brant ainda é o primeiro que ele dirigiu, sobre aquela dupla de matadores na fronteira paraguaia. Acho muito fortes os personagens de Chico Diaz e Murilo Benício e excepcional a atuação de Wolney de Assis. Beto baseou-se num conto de Marçal Aquino, roteirizado pelos dois e também por Fernando Bonassi e, se não me engano, Victor Navas. Eles fugiram aos estereótipos do policial à americana e construíram uma coisa muito brasileira. E o filme tem humor, sem pretender ser uma comédia (nem de longe). Mas no que me amarro é a paisagem. Adoro aquela fronteira, uma terra de ninguém avermelhada, de cores intensas. Não sei se foi a primeira fotografia do Marcelo Durst e depois ele fez Estorvo, do Ruy Guerra, que é uma coisa de louco. Grande fotógrafo, mas qual é a novidade? A gente sempre sofreu desse complexo de primo pobre em relação a Hollywood. Eles dominam a técnica, o mercado, têm dinheiro, mas há uma escola brasileira de fotografia que é genial. Vem desde Edgar Brasil, fotógrafo de Mário Peixoto e Humberto Mauro, passa por Luiz Carlos Barreto, Dib Lutfi, Afonso Beato e Ricardo Aronovich no alvorecer do Cinema Novo e chega a Walter Carvalho e César Charlone na retomada. Devo estar esquecendo muita gente. Sorry, mas vamos a Os Matadores, sem esquecer que Maria Padilha, naquela cena... Vou te contar!

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