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Uma geléia geral a partir do cinema

Os 'Escoréis'

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Tive ontem um final de tarde bem movimentado, entrevistando os 'Escoréis', como digo brincando, o grande fotógrafo Lauro Escorel e o grande montador Eduardo Escorel, ambos cineastas, irmãos e co-responsáveis pela caixa que traz a primeira parte da restauração da obra de Leon Hirzsman. Haverá até ciclo para assinalar este lançamento na segunda-feira e eu prometo voltar ao assunto. Gostei muito de falar com o Lauro e o Eduardo, amigos e colaboradores de Leon Hirzsman, e que fiquei sabendo agora têm a mesma opinião que eu. Leon a cabeça pensante do Cinema Novo, fez grandes filmes, mas nenhum é maior do que 'São Bernardo', que ele adaptou de Graciliano Ramos e tem a antológica interpretação de Isabel Ribeiro. Quase no fim do filme, na igreja, a câmera avança, num travelling muito lento, para o rosto de Isabel e ela fala, fala, dizendo de sua infinita amargura porque Paulo Honório, tratando-a como sua propriedade, terminou por destruí-la. É um dos grandes momentos do cinema brasileiro, Lauro e Escorel concordam comigo. ,Lauro, que era fotógrafo do filme - aos 21 anos -, contou não apenas como a cena foi feita, mas também como foi filmado o extraordinário final de 'Eles não Usam Black-Tie', quando Gianfracesco Guarnieri e Fernanda Montenegro estão sentados à mesa, catando feijão e jogando fora os grãos que não prestam - metáfora da situação familiar, depois que o filho do casal (Carlos Alberto Riccelli) furou a greve. Devo a Leon Hirzsman momentos inesquecíveis, sempre o disse à filha dele, Maria Hirzsman, minha colega (como crítica de artes visuais) na redação do Estado. Maria não trabalha mais no jornal, mas continua colaborando no Caderno 2. Espero revê-la na segunda-feira. Vou voltar ao assunto Leon, com certeza, mas quero falar do Lauro e do Eduardo, dos 'Escoréis'. Lauro até riu - cada vez que falo com ele pergunto se não vai dirigir outro filme. Ele dedicou os dois últimos anos à restauração da parte visual dos títulos que integram a primeira caixa da Coleção Leon Hirzsman. Está louco para voltar a filmar, mas vai voltar como fotógrafo no ano que vem (está certando os novos filmes de André Klotzel e Arnaldo Jabor, que volta ao cinema após longo afastamento, durante o qual se dedicou ao jornalismo). Lauro não tem projeto próprio. Diz que o que ele gosta não é o que está na moda no cinema brasileiro. Repeti a pergunta para o Eduardo - quando ele voltaria à ficção? - e ele também disse que não tem projeto. Eduardo prefere fazer documentários, mais fáceis de viabilizar e que ele pode desenvolver em total liberdade, sem pressão de ninguém. Eu insisti - insisto sempre - para que Eduardo ERscorel volte à direção. Além de gostar de 'Uma Lição de Amor', que ele adaptou de 'Amar, Verbo Intransitivo', de Mário de Andrade, e 'Ato de Violência', sua versão da vida de Chico Picadinho - é 'UM Ato' ou 'Atos?' -, acho que Eduardo fazia filmes contra a corrente. Nenhum deles seguia qualquer tendência, no momento em que foram feitos. Provoquei o Escorel - será legal ver o que ele faria, se seguisse sua norma de ir contra a corrente, ao regressar à ficção no atual momento do cinema brasileiro...

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