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Uma geléia geral a partir do cinema

Os Aventureiros

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Emma, o filme com Delon - e Lino Ventura e Johanna Shimkus - em que toca o Funeral Submarino é 'Os Aventureiros', de Robert Enrico, outro daqueles diretores que parecem ter sumido na noite dos tempos. Este cara fez, por volta de 1960, um curta excepcional chamado 'La Rivière du Hibou', adaptado de Ambrose Bierce, que ele juntou a outros dois filmes também adaptados do escritor para compor um longa, 'Au Coeur de la Vie' (No Coração da Vida), que era muito bonito. Em 1963 ou 64, por aí, Enrico fez La Belle Vie, que eu vi no Uruguai e era um filme bem forte sobre a reintegração de um soldado que havia sido dispensado após a Guerra da Argélia, tema tabu no cinema francês do começo dos anos 60 (e o diretor, aliás, teve problemas com a censura). Acho muito bacana - se a memória não estiver me falhando - 'Trama para Matar', que ele adaptou de José Giovanni, com Bourvil e Lino Ventura. A esta altura, Enrico já estava fisgado pelo cinema de ação e fez 'Os Aventureiros', com Delon como mecânico e Ventura como piloto que se unem para procurar tesouro no fundo do mar. Com eles anda a bela Johanna Shimkus - que depois foi casada com Sidney Poitier -, como uma mulher que cria esculturas a partir de restos industriais. Tanto quanto do funeral - mas eu não lembro quem fazia o vocal -, me vêm à mente as cenas que mostram o febril processo de criação de Letícia (é o nome da personagem). Em 1968, o mundo estava mudando, estávamos no célebre Maio e não era de bom tom gostar de um diretor comercial como Robert Enrico. Eram os tempos de 'Terra em Transe', da 'Chinesa' (de Godard). Enrico passou. Nunca mais me havia lembrado dele. Este ano, em Cannes, foi exibida a versão restaurada de 'Os Aventureiros'. Batia com sei-lá-que-filme da competição oficial e fui ver o outro, mas lamentei. Havia até me esquecido. O post da Emma me lembrou da minha escolha. A gente só se arrepende do que deixa de fazer. Deveria ter revisto 'Os Aventureiros'. Mas, enfim, com versão restaurada, quem sabe os amigos do cinema francês - Jean Thomas Bernardini, da Imovision, ou André Sturm, da Pandora - não trazem o filme do esquecimento?

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