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Uma geléia geral a partir do cinema

O presidente e o rei

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

RECIFE - Em geral, durmo como anjo em avião, sem necessidade de medicamento nem ligar para poltrona. Mas, na volta de Cancun, via Miami, comecei a ver filmes. E quero relatar para voces. Vi um tal de Hyde Park on Hudson, de cuja existência nem suspeitava. O diretor Roger Michell, de Um Lugar Chamado Notting Hill - a comédia romântica favorita de meu ex-editor, Dib Carneiro - e Vênus. Michell conta agora a história do fim de semana em que o então presidente dos EUA, Franklin Delano Roosevelt, recebeu em sua casa de campo o casal real da Inglaterra, Bertie e Elizabeth, que vinham, em 1939, pedir apoio na guerra contra os nazistas. Roosevelt era amante da prima e o filme tem coisas que me pareceram bem ousadas e interessantes. Não estou me referindo necessariamente à cena em que Laura Linney masturba Bill Murray no carro, mas no diálogo de Roosevelt com Bertie, em que ele se refere a ambos como aleijados. Um paralítico (o presidente), o outro aflitivamente gago (o rei) - Roosevelt fala num ponto essencial, como as pessoas todas fingem não notar. Sei bem o que é isso, e olhem que não sou presidente nem rei, portanto não encarno um poder que é preciso reverenciar. Quem me acompanha sabe que não gosto muito de O Discurso do Rei, menos pelo filme de Tom Hooper em si do que pelo tratamento que dá aos personagens de Bertie (o rei) e Elizabeth (sua rainha). A personagem da sra. Tim Burto, Helena Bonham Carter, é um horror no Discurso e Olivia Colman também é em Hyde Park on Hudson, cobrando do marido o que ele não é, mas representa. As mulheres são muito interessantes. O filme não faz segredo de que Eleanor Roosevelt (outra Olivia, a Williams) é lésbica e Laura, a prima, com frequência se sente excluída, até que o presidente, usando suas prerrogativas, à integra em definitivo à sua vida - perante a mãe, a mulher, o rei e a rainha. Não vi Hyde Park nas melhor condições. Os filmes costumam passar editados em aviões, mas gostei do que vi. E Bill Murray está muito bem. O outro filme que vi no voo da American foi coreano, Confession of Murder. Muito punk. Adorei, mas conto depois.

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