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Uma geléia geral a partir do cinema

O momento Garcia Lorca em Fellini

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Lá vou eu comprar briga. Luiz Zanin Oricchio, felliniano - fellinimaníaco? - de carteirinha, que me desculpe, mas neste começo de ano assistimos a um revival de Federico Fellini, por conta de seu centenário de nascimento, em 19 de janeiro. Revi alguns de seus filmes antes que a pandemia me isolasse em casa, e ontem à noite teve o duplo dedicado a Giulietta Masina no Telecine Cult. As Noites de Cabíria e Julieta dos Espíritos. Prefiro o Fellini neo-realista, o primeiro, ao 'fellinesco', circense, o segundo. Curto e grosso - achei Julieta dos Espíritos no limite do insuportável. Um visual - as cores - despropositado e a dramaturgia 'jungiana'... Só pode ser piada. Um filme sobre a liberação feminina por um machista assumido. Ótimo para quem se diverte, eu achei um porre. As duas horas e pouco mais longas que vivenciei vendo filmes ultimamente. E já que estou chutando o pau da barraca, vou fundo. A Masina! Já não tinha engolido a dimensão chapliniana da Gelsomina de Estrada da Vida, mas Giulietta é uma das personagens mais unidimensionais que Fellini criou. Puta mulher chata, credo. A única coisa de que gostei no filme, para minha surpresa, foi do José Luís de Villalonga. Num mundo habitado por malucos, fantasmas - e uma palhaça triste -, ele é a exceção. Mantém-se equilibrado, alheio à loucura geral. Lembrava-me dele de alguns filmes. Os Amantes, Bonequinha de Luxo/Breakfast at Tiffany's, no qual fazia o fazendeiro brasileiro José da Silva Pereira, que deveria casar-se com Holly Golightly/Audrey Hepburn, mas a união não se consuma. Resolvi fazer uma pesquisa. Não sei por quê, mas pensava que Villalonga, como playboy internacional, era dominicano (como o lendário Porfirio Rubirosa). Descobri não apenas que era espanhol, mas também o 9.º Marquês de Castelvell, Grande de Espanha e opositor de Franco, tendo sido, em Paris, porta-voz da Junta Democrática formada, durante a ditadura, para preparar o retorno do país à democracia. A par de ser milionário e frequentar o jet set, Villalonga foi escritor (romancista) e ator. Pergunto-me se Fellini, no filme, não transformou os clientes de Giorgio, o marido que trai a Masina, em brasileiros por causa do Pereira. Não, é bobagem. José Luís, o personagem como o ator, é espanhol. Achei mágica a cena em que ele recita Garcia Lorca. Um minuto, dois, não redimiram Julieta dos Espíritos para mim.

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