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Uma geléia geral a partir do cinema

O Diabo na pele de Meryl Streep

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Ando de bode há algum tempo com Robert Altman, achando que soltar a câmera entre diversos personagens, como ele fez em Nashville, sweguindo uma lição do Buñuel de O Discreto Charme da Burguesia, virou uma fórmula, por mais que o recurso exija talento e outros diretores talvez não conseguissem desenvolvê-lo. Não é uma rejeição total e até acho que o novo filme do Altman, A Prairie Home Companion, que passa no Festival do Rio (e na Mostra de São Paulo), é melhor do que os anteriores recentes, mas de Prêt-à-Porter, decididamente, não gosto. Sei que tem gente que compara O Diabo Veste Prada ao filme de Altman para desacreditar a estréia de hoje nos cinemas brasileiros. É injusto com as qualidades que o filme do estreante David Frankel tem. O defeito mais gritante é que Frankel, da série Sex and the City, fez um filme bem cinemão. Além do número de atriz (Meryl Streep está sensacional), tem aquela coisa americana da segunda chance, coisa e tal. O filme continua mesmo depois que a história terminou. Isso é Hollywood e isso é ruim. O bom é que Frankel tem uma visão abrangente do mundo fashion e da economia globalizada. A cena em que Meryl, como Miranda Priestley, parte da cor da malha que a personagem de Anne Hathaway está usando para refletir sobre economia e comportamento no consumista mundo moderno, é 10. E eu confesso que me surpreendi, assistindo a Os Doze Trabalhos, um filme do Ricardo Elias do qual gosto muito (e que não tem nada a ver com Prada), pensando na Meryl Streep, quando ela explica para Anne Hathaway que viver é fazer escolhas e a garota, que se julga crítica daquele universo frívolo, fez as dela, que não são muito éticas. O cinema é isso - as pontes que a gente pode fazer entre obras diferentes, mas que nos acrescentam alguma coisa. E tem Meryl. Dib Carneiro, meu editor no Estado, estava fechando a páginma quando disse que Miranda é o tipo do papel que Glenn Close também poderia fazer, e fazer bem. Discordo um pouco. Glenn repetiria a Marquesa de Merteuil de Ligações Amorosas e talvez trouxesse para a personagem um pouco da psicose das vilãs de Atração Fatal e Os 101 Dálmatas (Cruela Cruel). Meryl, não. Miranda Priestley, a megera fashion que dita regras no mundo da moda, tem autocrítica. Aquele sorriso na cena do carro é fundamental. Exige uma atriz com a persona de Meryl. Glenn Close não daria um sorriso daquele.

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