PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Uma geléia geral a partir do cinema

Notícias do universo paralelo

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Ando à beira de um ataque de nervos com a novela sobre Neymar, que divide com a da Previdência o noticiário da TV. Entre um capítulo e outro, flagrantes da violência policial e a dose diária de nonsense do governo, que libera armas, duplica pontos na carteira de motoristas e libera o uso da cadeirinha de bebês nos carros. Isso me passa a ideia de que o governo, por não estar avançando nas reformas como quer, adota outra estratégia. Dizimar a população, matar o maior número de brasileiros para reduzir despesas e tentar chegar ao trilhão do Guedes. Exagero, sei, mas tentem ficar 15 dias num hospital vendo e ouvindo o que pensam e dizem nossos políticos e governantes na TV - a líder deles, aquela loira bombshell que parece sempre pronta a executar a coreografia num show da dupla Si (Quando a saudade maltratar/ Vai lembrar da boca que era sua...), é um caso à parte -, isso quando não acompanhando as andanças de Mr. Trump pelo planeta. Tenho até visto futebol - Corínthians e Flamengo, que Casão considerou um grande jogo e eu achei um peladão, toda aquela gente trombando no meio de campo. Me emocionou muito mais a final da Taça das Favelas, que mostrou o básico. O negro, o pobre, o favelado, o outro, em síntese, não é o monstro pintado pela elite, que fala em sanear finanças mas se recusa a pagar a conta. É desesperador. A sensação é de haver mergulhado num universo paralelo e a gente termina por considerar realistas as mais delirantes ficções. Nada mais surpreende. Passei bons momentos assistindo a Um Novo Olhar, de Michael Mailer, que me fez lembrar Uma Leitora bem Particular, do grande Michel Deville, com Miou-Miou. Demi Moore, obrigada a prestar serviço comunitário, vai ler para o escritor misantropo (e cego), Alec Baldwin. Gostei muito dos dois. Nada como ter tomado algumas porradas da vida, não é, Miss Moore? Me pareceu mais bela e humana, despida da antiga artificialidade, num filme que ressalta sua dicção. Também vivi momentos de angústia com a ficção científica Vida, de Daniel Espinosa, que tem aquele elenco - Jake Gyllenhaal, Ryan Reynolds, Rebecca Ferguson, que deu nova alma à franquia Missão Impossível. Uma fábula clássica de paranoia. Uma estação espacial, a tripulação recolhe um espécime vivo em Marte. Surpresa geral - há vida no planeta vermelho. Levam para bordo aquela coisinha que parece uma alga, mas vira um alien assustador. Como a originalidade não é o forte, Espinosa compensa sua falta com um rigor kubrickiano. São lindos os balés no espaço e acurada a recriação da rotina numa estação espacial. E quando o alien começa a matar, socorro! Não tinha visto Um Novo Olhar nem Vida nos cinemas, gostei (de ter visto).

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.