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Uma geléia geral a partir do cinema

Mulher com luz própria

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Anos atrás, por ocasião da estreia de algum filme de Helena Ignez, fiz uma capa no Caderno 2, Dona Helena e Seus Dois Maridos. Não representa pouco que ela tenha se unidos a dois dos maiores diretores/autores do cinema brasileiro, talvez os maiores, e ambos chefes de fila. Glauber, o arauto do Cinema Novo, e Rogério (Sganzerla), do cinema independente, contestador, dito marginal ou udigrudi. Não me lembro se, na mesma época, ou antes, não conseguira ir adiante no livro de Nelson Motta sobre Glauber, uma coisa tão chapa-branca que parei na infância. No afã de mostrar que Glauber já era gênio desde Glauberzinho, Motta transforma qualquer brincadeira de criança em manifestação de precocidade. E aí, Helena, avalizando o artista, o gênio, redimensionava o homem - machista, para dizer-se o mínimo. Esse Glauber machista ressurge em A Mulher da Luz Própria, a que assisti ontem no Festival Latino. A própria Helena fez a apresentação do filme realizado por sua filha (com Rogério), Sinai. A diretora/autora está no Rio, começando filme novo. E Helena ressaltou que Sinai Sganzerla não fez uma homenagem à mãe - bem, também -, mas, por meio desse retrato da mulher, da atriz, que viveu momentos decisivos da cultura e da vida política (e institucional) brasileira nos últimos 60 anos, quis dar conta dessa coisa maior. A guerreira, a feminista, o ser político. Helena já começa dizendo que nasceu na Bahia. Mulher e nordestina, 'paraíba', segundo o atual presidente. Nascida para ser cidadã de segunda, assumiu as rédeas de sua vida e tornou-se protagonista da própria história. Helena conta tudo. A garota high society, Glauber, a separação litigiosa - e ele retirou a guarda da filha -, (Júlio) Bressane, Rogério, o encontro com asenergias orientais (ela se recusa, nesse Brasil, a falar em religião). A mulher que sempre lutou perla liberdade, sua e dos outros, assumiu sdua liberdade interior. Virou diretora - autora. Mesmo ao retomar roteiros de Sganzerla - e sempre me comove, nas narrativas de Helena, como foi o amante, o amigo, o companheiro, libertário na arte e também na vida -, tornou-se autora. Uma mulher com luz própria. Gostei muito do filme. Da personagem, nem se fala, mas do filme. As opções narrativas de Sinai. Helena, uma mulher sempre em movimento. O relato na primeira pessoa, as imagens de arquivo. Estou tendo momentos muito gratificantes no Festival Latino.

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