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Uma geléia geral a partir do cinema

Mostra de SP (9)/E o mundo, de quem é?

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Éramos bem poucos - uns dez, talvez menos - vendo Esse Mundo É Meu, no começo da tarde, na Mostra. Mas valeu a pena - para mim, pelo menos. Havia dito que estava apreensivo. Certos filmes são tão cristalizados no imaginário da gente que o juízo de valor torna-se secundário. Digamos que gostei de rever Esse Mundo É Meu. Lembrava-me de cenas inteiras do filme, notadamente do ator, diretor e roteirista Sergio Ricardo com Léa Bulcão. O próprio Sergio Ricardo faz operário que dá duro no trabalho. Sem dinheiro para comprar um presente para a amada, ele a convida para que passem o dia passeando. A partir daí o relato estrutura-se em torno de uma representação teatral. Ele quer ter um, filho. Ela topa, mas recua. É uma história. A outra é de Antonio Pitanga, que também mora no morro e é engraxate. Ele sonha comprar uma bicicleta, porque assim acreditas que conquistará a mulher que ama. Vemos cena inteiras de devaneio de Pitanga com a mulher na garupa. uma morte na família transforma o dinheiro da bicicleta em enterro - do sonho? Não. Ele dá um jeito pouco ortodoxo de conseguir a bike. Há 50 anos. Hoje bastaria ser correntista de banco. Brinco. O operário, também atingido pela tragédia, reage. A ideia do filme está no título. O mundo é de quem faz, de quem se apropria dele. Esse Mundo é Meu talvez seja canhestro, em termos de acabamento. Mas me lembrou, nas revisão, os filmes da trilogia de Apu, de Satyajit Ray, vejam só. A cópia, embora restaurada, dá tratamento desigual à fotografia do grande Dib Lufti, ou então foi a projeção. Havia momentos em que parecia fora de foco. Adorei o som. Era rara no cinema brasileiro da época, 1964, essa preocupação com o som. A forja em que o operário trabalha cria o que parece o efeito de repicar de sinos. Em certos momentos, ações sonoras repetidas marcam o tempo, como um tique-taque. Quando Léa vai abortar, o vento na janela do barraco da fazedora de anjos é prenúncio de que algo vai ocorrer. Lembrava-me de Léa, que tem momentos ótimos. (Re)Descobri Antônio Pitanga. Como ele era bom. Acho que foi Maria do Rosário Caetano quem me disse que Beto Brant está fazendo um documentário sobre o ator. Mas não é um documentário de arquivo e entrevistas, como os outros. Pelo que entendi, Beto Brant promove o encontro de Antônio Pitanga com seus diretores e colegas atores. Espero que Sérgio Ricardo esteja nessa.

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