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Uma geléia geral a partir do cinema

Mostra (11)/Cinema de Laurent Cantet é sobre palavras, e lugares. La Ciotat!

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Fui hoje ao Rio - estou começando o post ainda na terça-feira - num bate e volta para entrevistar Elena Soárez e o diretor Luciano Moura, da minissérie Treze Dias Longe do Sol, que entra (inteira) no GloboPlay nesta quinta, 2. Depois, na sucursal do Estado, falei por telefone com Selton Mello, que está em Roma, no festival, apresentando O Filme de Minha Vida na mostra principal, competitiva. Por conta disso, só entrevisto na quarta Laurent Cantet. A França, que teve dois autores homenageados na 41.ª Mostra - Paul Vecchiali e Agnès Varda -, faz o encerramento com o novo Cantet, L'Atelier, que aqui vai se chamar A Trama. Faz sentido. O filme mostra um grupo de jovens numa oficina literária com uma famosa escritora - interpretada por Marina Foïs. A primeira vez que entrevistei Cantet foi no Festival do Rio, por Vers le Sud, com Charlotte Rampling. Depois, tive sucessivos encontros com ele - em Cannes, Paris, São Paulo. Cantet não é Joseph L. Mankiewicz, mas talvez seja o cineasta da palavra desses tempos. Seus filmes apresentam sempre grupos étnicos que discutem seus problemas, suas diferenças. E são, também, filmes que se inscrevem no tempo e no espaço, em lugares precisos. Entre os Muros da Escola resume a França dentro de uma sala de aula, Retorno a Ítaca olha Cuba daquele terraço e A Trama não seria tão rico nem tão complexo sem La Ciotat. Sem dúvida que o antigo estaleiro, visto da villa em que Marina se reúne com seu grupo, é importante. O filme exibe/discute fissuras sociais, aborda o tema dos imigrantes do Magreb, que a França discrimina. Um desses garotos flerta com líderes da direita radical, como a ascensorista de Praça Paris guarda no celular clipes de violência racista e sexista. No grupo, ele manifesta sua revolta agredindo, provocando. Tem o árabe, a garota cujo avô foi sindicalista, e ela também é magrebina. Mas La Ciotat é mais que isso - um lugar mítico do cinema, onde os irmãos Lumière filmaram a chegada do trem à estação e ali perto, em Lyon, distante hora e pouco, se tanto, a saída da fábrica. Lembrei-me de O Corpo Elétrico, de Marcelo Caetano, como se o filme brasileiro, com sua especificidade, pudesse dialogar, e pode, com esse lugar mítico, e com o filme de Cantet. Gostei muito de A Trama, e se você não puder ver o filme agora não se preocupe - ele entra em duas semanas, no dia 16. Uma conversa sobre arte, política. Sobre cinema. E outro belíssimo Cantet, que espero discutir com o próprio, daqui a algumas horas.

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