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Uma geléia geral a partir do cinema

Mostra (10)/Retablo é pérola que vem do Peru

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Estou iniciando o post às 23h30 de terça, muito provavelmente vou salvá-lo nos primeiros minutos da quarta, 24. Talvez cause estranhamento o que vou escrever. Tenho dito que o melhor filme dessa Mostra é o Reygadas, mas vi hoje um filme que me tocou muito, que não tem o esplendor da mise-en-scène de Nuestro Tiempo, mas que eu gostaria de ver vencer o prêmio da crítica, ou o da competição de novos diretores. Foi o peruano Retablo, de Alvaro Delgado-Aparício, com a atriz Magaly Solier, de La Teta Asustada. Retablo é sobre esse garoto que idolatra o pai, um grande artista que cria os mais belos retábulos. Ele quer ser tão bom quanto o pai, mas ainda é jovem e não consegue. E aí ele faz uma descoberta sobre esse pai e seu mundo rui. Ele não quer mais seguir a tradição, mas algo acontece, algo muito doloroso, que faz com que repense tudo. O afeto, as raízes. Fui, no começo dos 70, ao Peru com minha ex, a Doris. Voltei há dois, três anos. Estou impregnado por aquela paisagem, aquela vivência. Gostei demais de Retablo. Muito! E é curioso como o filme me fez repensar Deslembro e Temporada. Estava achando que havia sido injusto com os dois, mas o twist final de Retablo era o que eu gostaria de ter encontrado em Deslembro. Do jeito que Flávia Castro constrói a curva da garota protagonista, o filme não me acrescentou nada ao tema da implosão da esquerda e me aniquilou com aquilo que meu colega Luiz Zanin Oricchio definiu como sentimento de impotência, diante da loucura que virou o Brasil contemporâneo. (Era só o que nos faltava - além de fake news, agora fuck news! E com o Dória estrelando... Rocco Siffredi! Pegou mal, Merten. Está faltando ferramenta.) Já que Deslembro trabalha no universo da ficção, preferiria ter encontrado nele - no filme - o que a realidade me nega. É bonito, sensível, e daí? Temporada me coloca outro tipo de problema. É bom, é melhor, mas o tom menor, que é sua qualidade, é também seu limite. Um autor como Yasujiro Ozu filma pequenas vidas, mas ultrapassa o tom menor. Retablo, também. Olha o spoiler! Parecia que ia sufocar, quando o garoto cria seu retablo, e o que põe nele, no final. O filme peruano terá mais uma sessão na Mostra, no CCSP, dia 27, às 19 h. Não percam!

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