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Uma geléia geral a partir do cinema

Mostra (1)

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Sai o Festival do Rio, entra a Mostra de São Paulo. Voltei do Rio com apenas uma frustração - havia tentado ver Cavalo Dinheiro, de Pedro Costa, e foi um dos raros filmes substituídos (o único?) à última hora. Em todas as demais sessões do filme eu tinha Première Brasil, debates. Sobrava o último dia, mas batia com a premiação. Se eu soubesse que ia assistir àquela comédias de erros talvez preferisse o Pedro Costa. Frustração à parte, foi um belo, um grande festival. E agora começa a Mostra. Não estou comparando, mas é impossível sair de um grande evento de cinema e entrar em outro sem ser afetado pelo primeiro. Dei ontem minha primeira olhada na relação dos filmes da Mostra. Maria Eugenia Menezes, que edita o guia do Estado, me pediu uma lista de cinco imperdíveis. Naomi Kawase, que era minha candidata à Palma de Ouro, com Still the Water - o filme vai-se chamar aqui O Segredo das Águas - e Jauja, de Lisandro Alonso, entraram rapidinho na minha lista. Como recebi uma lista em bloco, a Mostra também resgata filmes cults da minha vida, que não sei exatamente como entram na programação. Talvez na seleção de Martin Karmitz, um dos homenageados, pode ser. O Espírito da Colmeia/El Espiritu de la Colmena, de Victor Erice. E outro filme de Erice. Jamais conseguirei reproduzir o espanto, o impacto que me causou a projeção de El Sol del Membrillo no Festival de Cannes. Ainda era neófito no maior festival do mundo (em 1992)e vinha aquele filme não narrativo, fora dos cânones. Um documentário? Não exatamente. O mundo todo cabe no jardim do estúdio do pintor António López. Há ali uma árvore, um marmeleiro. López arma seu cavalete, coloca a tela e se propõe a uma tarefa que parece simples. Captar a luz nos frutos, mas ela muda a todo instante. O mistério primevo do cinema, que é luz, dizia Abel Gance. Com as novas tecnologias, meu amigo Gabriel Villela está tendo de mudar seu discurso. Em nossas conversas sobre teatro e cinema, ele sempre encerrava o assunto com o argumento definitivo. Chega, vou tirar da tomada. E acabava-se o mistério. Nunca revi O Sol do Marmeleiro, mas se o filme continuar me causando um décimo do efeito que teve sobre mim já será imenso. Genial e indescritível. A Mostra promete.

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