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Uma geléia geral a partir do cinema

Moretti, sob suspeita?

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

PARIS - Figaro repercute hoje a polemica da semana, na internet. Alguem levantou, em seu twitter, que Nanni Moretti teria premiado filmes de sua empresa distribuidora na Italia, ou entaoh produzidos por seu socio, Jean Labadie. O assunto virou um escandalo e o proprio Thierry Fremaux veio a publico, tambem em seu twitter, para aclarar - Moretti nao premiou sozinho e, para impor sua vontade, teria de convencer oito pessoas (oito!), que integravam o juri que presidia. Jean Labadie, por sua vez, ironizou - todos os premios foram importantes, mas secundarios. Se fosse para favorecer, ou ser favorecido, entao o amigo Moretti deveria ter lhe dado a Palma de Ouro. A verdade eh que os franceses nao deglutiram a ausencia de sua selecao no Palmares. A imprensa dividia-se entre Holy Motors, de Leos Carax, os que esperavam ver o circo pegar fogo, com um premio `escandaloso` (vanguarda aa retarguarda) e De Rouille et d`Os, de Jacques Audiard, os mais `classicos` (e o filme dele eh infinitamente melhor). Imagino que o assunto deva render e `Cahiers`, que apostava em Carax - mas gosta de bancar Moretti; para a revista, Habemus Papam foi o melhor filme do ano passado -, vai ter de rebolar para conciliar seus interesses editoriais. Como contestar o Moretti presidente de juri sem respingar no autor? Como a revista chega muito atrasada aas bancas, no Brasil, acho que terei aqui no blog a resposta lah por setembro... Em Londres, minhas amigas italianas (jornalistas) me esclareceram o premio para Reality. Nanni Moretti adora Matteo Garrone, a quem jah premiou desde o primeiro curta que o outro havia feito. Para elas, as italianas, foi o premio menos surpreendente de todos - embora, claro, para seguir o raciocinio de Fremaux, Moretti deva ter persuadido seus comandados a premiar Reality. Garrone nao teria vencido (o grande premio) sem a aquiescencia de todos. Tenho ido aas sessoes da mostra Un Certain Regard, no Reflets Medicis. Ontem, assisti a Antiviral, de Brandon Cronenberg, filho de David. Os Cronenbergs fizeram historia na selecao de 2012. Pela primeira vez na historia de Cannes, pai e filho integraram a mesma selecao oficial. Parte da imprensa francesa colocou Cosmopolis, do pai, na Lua. Os brasileiros que haviam visto o filho detestaram. Eu confesso que fiquei perturbado. Brandon retoma um tema do pai, as mutacoes que os homens produzem nos proprios corpos e que os transformam em aberracoes aos olhos de seus semelhantes. No caso, eh uma sociedade futurista, que cultiva a imagem - as celebridades. As pessoas, e o protagonistas, inocula-se um virus que estah matando a superstar dessa sociedade. Brandon filma num cenario antisseptico, como os laboratorios brancos e high tech de Stanley Kubrick em 2001, mas subverte o proprio visual clean pela introducao do sangue, da deformidade, da peste. Achei interessante porque, no fundo, pai e filho estao compartilhando a critica da mesma sociedade - mais obviamente, no pai, relacionada a Wall Street, mas o principioo eh o mesmo no filho. Aguardem para confirmar.

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