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Uma geléia geral a partir do cinema

Michael Mann em Veneza

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Em todas as materias e posts sobre o recente Festival de Cannes, não sei se cheguei a insinuar uma certeza que vem crescendo em mim. Depois de rever os filmes das seções paralelas Un Certain Regard e Quinzena dos Realizadores em Paris - havia visto 'Infância Clandestina' aqui mesmo, numa cópia de trabalho; acabado, o filme é ainda melhor -, tenho pensado bastante e estou me convencendo de que a seleção oficial da Berlinale de 2012 foi melhor. Sendo Cannes o maior festival do mundo, como é, creio que Thierry Frémaux deveria ter opções muito melhores do que vários filmes que colocou na competição. Eu trocaria uns três ou quatro com Um Certo Olhar e Quinzena - mas já ouço alguém dizendo que é gosto pessoal, uma questão subjetiva etc. Nem é tão pessoal - muita gente reclamou da seleção - e, menos ainda, subjetiva. E eu acrescento a informação só porque me parece que ainda vai se falar muito de Cannes 2012. O ano do 65.º aniversário, que deveria ter sido um apogeu, até pela data redonda, provocou um vendaval de críticas - aos filmes, ao júri... Por falar em júri, não sei se Luiz Zanin Oricchio, que faz a cobertura de Veneza para o 'Estado', já comentou alguma coisa, mas a nova curadoria do Lido já começa a dizer a que vem. Um grande diretor que não integra o circuito festivalier vai presidir a giuria da Mostra d'Arte Cinematografica deste ano - Michael Mann. Isso excita minha imaginação além da conta, porque, para mim, da forma como vejo seus filmes, Michael Mann refaz, em Hollywood, a trajetória de Elio Petri. Interessa-lhe o personagem sofista do autor italiano. 'O Informante' bebe na fonte de 'O Assassino'; 'Colateral' é o seu 'Os Dias São Numerados' e eu pude rever o filme com Salvo Randone em Paris, na semana passada, em cópia nova; 'Miami Vice' talvez seja 'Investigação Sobre Um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita'; e 'Inimigos Públicos' é 'Todo Modo' - como em 'Juízo Final', o tema do filme é a denúncia da classe dirigente. Nunca entrevistei Michael Mann, é uma das falhas do meu currículo, para confirmar se se trata de uma viagem minha, na obra de dois cineastas que respeito e admiro, ou se, afinal, se trata de um movimento consciente do próprio artista. O que acho significativo é que justamente a Itália esteja chamando o diretor para presidir um grande festival. Alguém, em Roma ou Veneza, fez a mesma ilação que eu? Não pode, não creio, que seja mera coincidência. Zanin, que até onde sei também gosta de Petri, bem poderia aprofundar o assunto, tentando entrevistar o Michael Mann em Veneza.

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