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Uma geléia geral a partir do cinema

Memória do cárcere

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

RIO - Não, não tem nada a ver com o livro de Graciliano Ramos nem o filme de Nelson Pereira. Gostaria de estar postando para dar conta do que foram o debate sobre A Gente, de Aly Muritiba, do qual fiz a mediação, ontem à tarde, e a apoteose de Cauby - Começarias Tudo Outra Vez, de Nelson Hoineff, ontem à noite, no Odeon. Fechando sua trilogia sobre a vida carcerária, Muritiba fez o filme mais político do festival - A Gente é sobre agentes do sistema penitenciário, e o diretor, a par de ser cineasta, é agente. Como se desmontam estereótipos? Muritiba pega logo dois - a ideia do agente penitenciário como agente da repressão, e numa cidade em que a polícia está baixando lenha em professores, um horror, e o protagonista dele, o agente principal, é um pastor evangélico, Jefferson Walkiu. O dublê de agente e pastor é um homem ético, íntegro e por conta disso não durou no cargo, embora tenha sido alçado a outras funções, maiores. Um agente que não bate? Que dialoga? Gostei muito, e gostei mais ainda ao descobrir que, como imaginava, o filme é um 'híbrido', mais ficção até do que documentário. Bacanérrimo. Ao contrário de muitos coleguinhas, achei bem interessantes os dois documentários anteriores de Nelson Hoineff, sobre Paulo Francis e Chacrinha, nos quais havia, declarada, uma intenção de refletir sobre o Brasil. Cauby não se pretende tão abrangente, mas o personagem é fascinante. Cauby atravessou décadas da música brasileira, foi vítima da repressão sexual, mas, no limite, ele se levanta, na arena da vida, como um vitorioso. Lembro-me de Cauby indo frazer show em Porto, quando eu era guri, e parte do público tumultuava, recebendo-o aos gritos de 'Cau-bicha'. Ontem foi a apoteose. Ele passou por mim como uma nuvem, clicado por fotógrafos, tocado como divindade pelos fãs. Como uma nuvem - a palavra me veio e me lembrei da descrição final que Joseph C0nrad faz de seu marinheiro em Lord Jim. No final, postei, sim, para dar conta do festival e o que seria meu primeiro post de hoje vai ser o segundo. Morreu Carlo Lizzani. Carlo quem? Vocês conhecem, mas eu esclareço, daqui a pouco.

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