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Uma geléia geral a partir do cinema

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Segunda à noite estava em Nova York, ermbarcando para o Brasil, e por isso não pude participar da votação da APCA. Cheguei a enviar meus melhores por e-mail, mas o colegiado de cinema da Associação não aceitou. Meus votos não teriam mudado substancialmente a escolha, a menos que meus colegas tivessem aceitado que São Silvestre, que estreia em 27 de dezembro, pudesse ser votado - e fosse considerado o melhor, como acho que o filme de Lina Chamie é. O Som ao Redor venceu, melhor filme e diretor (Kleber Mendonça Filho), mas eu confesso que, de corpo presente, teria batalhado para que Faroeste Caboclo e Tatuagem (sim, o longa de Hilton Lacerda) também tivessem sido premiados. Confesso que ando ficando meio exasperado com essas premiações. Após o debate com Hilda Santiago no Cinema da Vela no Cinesesc - sobre o Festival do Rio -, tomei um choque ao descobrir que Gonzaga, De Pai pra Filho havia vencido o grande prêmio do cinema brasileiro. Devia estar viajando, sei lá, mas perdi a cerimônia e, para dizer a verdade, não me lembro de alguma vez haver recebido um convite para fazer a cobertura da tal festa, mesmo que fosse a minhas expensas. (Não estou cobrando o convite, vejam bem, só relatando.) Mas, enfim, perguntei, sinceramente surpreso, por mais que goste do filme de Breno Silveira, como ele havia vencido o filme do Kleber e aí fui informado de que Gonzaga concorreu com Heleno, À Beira do Caminho e Raul - o início, o meio e o fim. Como? Entendi direito? Tudo bem que esses filmes possam ter estreado em 2012 - e O Som ao Redor entrou no comecinho deste ano -, mas são todos filmes do ano passado. Sei lá por quê, a festa de premiação, que deveria ter ocorrido no primeiro semestre - como ocorre em qualquer lugar do mundo -, foi transferida para o final do ano, quando todos esses vencedores parecem de outras eras. Para efeitos legais de premiação, São Silvestre vai cair no limbo, perdido nessa terra de ninguém que é o período do ano que vai da semana de Natal e Ano Novo até Reis. Duvido, mesmo assim, que meus colegas fossem levar o filme da Lina em consideração (mas deveriam). Todo mundo reclama tanto da formatação do mercado para as comédias, os blockbusters. Mas não vejo nenhum crítico votar nos filmes mais autorais/radicais. Pelo contrário, elegem-se três ou quatro 'votáveis' e todo mundo vai neles. É o voto cabresto. Até agora estou tentando entender como, na votação da crítica na Mostra, um cara se levantou para dizer que apoiava os votos de outro (outra) quaisquer que fossem. Como? Lauro Lisboa Garcia surtou e saiu ontem atacando no twitter a votação deste ano da APCA na área dele, a música. Até onde me contam, esculhambou legal, até mesmo com ataques pessoais. Não apoio, mas entendo a exasperação. Votaram este ano em cinema três críticos - três! Não existe cabine hoje de blockbuster sem 200 'críticos'. Onde andam os outros 197? Exagero, sei, mas não é só a representatividade que precisa ser (re)discutida. A validade, também. As premiações do National Board of Review e a dos críticos de Nova York privilegiaram filmes que ainda nem estrearam (mas os críticos de lá viram antes, em cabine).  Já pensaram? Estrearam 115 filmes nacionais em 2013, 116 com o da Lina (ou já estará incluído na numeração do Cinesesc?). Seria bom se votantes eventuais tivessem visto tudo. Eu mesmo não poderia votar, se o critério valesse, porque não vi o filme do Oswaldo Montenegro (e o anterior dele era bem interessante). Não penso  só na premiação da APCA, embora como ex-presidente e votante (até o ano passado) tenha um interesse especial pela Associação. É tudo pela credibilidade que, acredito eu, esteja ligada (ou será que deliro?), à representatividade.

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