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Uma geléia geral a partir do cinema

Little Children

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Sabe o que Beleza Americana poderia e até deveria ter sido? Não, mas você va saber em fevereiro, quando estrear o novo filme do Todd Fields, Little Children, que vi ontem à tarde. Já tenho meus candidatos ao Oscar. A Conquista da Honra (Flags of Our Fathers), Pequena Miss Sunshine, Oa Infiltrados (do qual não gosto muito, mas não sou louco de achar que não vai concorrer aos prêmioos da academia) e agora Little Children, que vai ser distribuído no Brasil pela PlayArte, acho que com o título de Pecadops Íntimos. Todd Fieds fez aquele filme chamado Entre Quatro Paredes, pelo qual Sissy Spacek e Tom Wilkinson foram indicados para o Oscar. Era a história daquela mãe que impulsionava o marido a vingar a morte do filho. Depois de assistir a Pecados Íntimos, me deu vontade de rever Entre Quatro Paredes. Todd Fields, de alguma forma, refez Beleza Americana. Não gosto do filme do Sam Mendes, que acho afetado e artificial, o que em parte pode ter sido intencional, mas não resolve o problema de que eu não consegui me interessar pelos dramas daqueles personagens. Todd Fields segue mostrando que, de perto, ninguém é normal, mas há uma visceralidade no filme dele que me deixou chapado. A sensação foi esta - saí da sala da PlayArte, na Av. República do Líbano, como se tivesse sido atropelado pelo mundo, mas sem opressão. O filme é triste, é doloroso, mas é permeado de compaixão e a esperança me pareceu genuína, ao contrário, por exemplo, da do filme do Cuarón que estreou ontem, Filhos da Esperança. Pecados Íntimos é um filme coral. São vários personagens cheios de taras, desejos. Juntos, formam um desenho social vigoroso. Kate Winslet é maravilhosa. Se não for para o Oscar, será a prova de que há alguma coisa errada com o prêmio. Faz a mulher que descobre a vida secreta do marido (a la Longe do Paraíso) e inicia um affair com um vizinho. Todo mundo quer se salvar, mas às vezes a salvação vem pela renúncia, pela aceitação de quem somos, do que carregamos e, agora percebo, esta é uma idéia que já estava em Entre Quatro Paredes. O filme tem um personagem raro. O cara que foi condenado por abuso sexual e volta à sua comunidade. Todos o hostilizam e discriminam. Ele é o monstro, mas é só um infeliz de um humano patético, com uma mãe que se preocupa por ele. O que ocorre é de uma beleza, e tristeza, que supera a de O Céu de Suely, do Karim Aïnouz, que me passou essa mesma sensação. Sam Mendes fez um filme sobre a figura do pai. Todd Fields fez um sobre a mãe. A perda da mãe, a mãe que se redescobre. Existe aí, sob camadas de inconsciente, uma metáfora redentora da América, que depois de Bush filho precisa de uma redenção. E há o narrador, que lembra o de Truffaut em Jules e Jim. Sua fala é genial. O que importa não é o passado que nos condena, mas o futuro. Volto a dizer. Fiquei chapado. E Kate Winslet... Que atriz que se arrisca, que mulher intensa! Poderia ser o contrário. Que atriz intensa, que mulher que se arrisca! Kate é 10 e eu já estou em dúvida se Helen Mirren, premiada como tem sido (em Veneza, pelo National Board of Review)é mesmo imbatível por seu papel em A Rainha (The Queen).

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