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Uma geléia geral a partir do cinema

Leandro Hassum, Alê McHaddo e o Auto da Compadecida da dupla

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Tenho sofrido de novas dores na perna - não estou me queixando, apenas informando, a quem interessar possa. Estou no prazo - seis meses no pós-operatório e recém se passaram três, mas, enfim, para uma reposição de prótese, esperava que as coisas andassem mais rápido. A dor e uma experiência traumática que vivi numa madrugada da semana que passou estavam acabando comigo. Carlos, o físio, me exortou - que palavra chique - a tomar um relaxante muscular, o que fiz na sexta à noite. Dormi até às 11 de sábado, coisa que não fazia há anos. Enfim, havia me programado para ver O Amor Dá Trabalho, a comédia de Alê McHaddo com Leandro Hassum, que havia perdido e está num circuito limitado. Havia uma sessão às 13h15 no West Plaza, mas não consegui. Terminei vendo o filme às 16h10 no Shopping D, ou melhor, 16h10 era o horário anunciado, mas o filme só entrou às 16h25, após 15 intermináveis minutos de trailers e comerciais variados. Estava relaxado - zen - depois de dormir bastante e encarei numa boa. Veio o filme e confesso que vivi uma experiência singular. Leandro, se ler esse post, ou seu diretor, os dois, ficarão felizes de saber que nunca vi um público rir tanto numa comédia. A plateia se concentrara da metade para o alto da sala, eu fiquei pelo meio, com pouca gente à frente. Várias vezes voltei-me para trás para ver quem ria tanto. Fantástico, extraordinário, maravilhoso. Era uma loucura, e numa sessão normal, de público pagante, incluindo eu, não de amigos, nem convidados. A verdade, parece-me, é que tem havido uma mudança de perfil do espectador de comédias brasileiras. Leandro, Ingrid Guimarães podem se queixar. O recente De Pernas pro Ar saiu de cartaz porque teve de esvaziar o circuito que ia abrigar Vingadores. É coisa séria, ligada às cota de tela que esse governo ignora, mas a verdade é que o público de classe média bandeou-se para Paulo Gustavo e Mônica Martelli, a divorciada de 40 anos e o amigo gay que segura a onda dela. Um outro segmento, mais periferia, é representado por Samantha Schmutz, Cacau Protásio, Emiliano D'Ávila e o impagável Marcus Majella da pensão de Vai Que Cola, que estreia o 2 na quinta-feira, 12. O 2 é uma prequel, mostrando como tudo - a pensão - começou. No País que parece querer descriminalizar a homofobia, com toda certeza para liberar a caça ao viado, em nome da 'família', Majella chega com a versão 'pão com ovo' de Lua de Cristal, clipando o hit da ex-fadinha loira Xuxa. Durante anos, décadas, Xuxa celebrou um padrão - branco e loiro - de beleza nesse Brasil que é mulato e inzoneiro. Pois vêm agora o Majella e o diretor César Rodrigues com a a sua versão 'ultrajante', esculhambada - na vertente do Bandido da Luz Vermelha - de Lua de Cristal. Achei genial. De volta ao Leandro Hassum, acho que houve um estranhamento do público, quando ele deixou de ser 'gordo'. As bilheterias milionárias encolheram, mas ele não perdeu a graça, como prova a platéia de sábado do Shopping D. E o Leandro, que nessa altura não tem mais nada a perder, está arriscando muito mais. Faz seus shows nos EUA, na TV integrou-se à Escolinha do Professor Raimundo e, agora, no cinema, O Amor Dá Trabalho é o seu Auto da Compadecida. Sim! Leandro faz um 'burrocrata' que morre e vai para o limbo. Para chegar ao céu, ganha uma missão - unir dois corações, mas ele descobre que o cara é um rematado patife e, em vez de aproximar, age para separar a dupla. O caso vai a julgamento no céu e Ancelmo fica por um triz para ser despachado ao inferno, como João Grilo e Chicó, lembram desses dois? Intervém... Vão ver.

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