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Uma geléia geral a partir do cinema

Imaginação é o limite?

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Não queria furar minha matéria sobre James Cameron, no 'Caderno 2' de hoje, mas a fala dele que me impressionou foi a que deu título à página - 'Imaginação é limite'. Cameron disse que a técnica é uma ferramenta já dominada e que hoje os diretores tudo podem. O único entrave é realmente a imaginação (ou falta de...) para explorar todo o potencial que as novas tecnologias (e a indústria de efeitos) permitem ou autorizam. Acho isso da maior importância, independentemente de achar se é bom ou não. Ocorreu de ontem eu haver fechado minha página sobre o lançamento de 'Avatar' em DVD e Blu Ray quando recebi um e-mail da França. Havia enviado algumas perguntas à mulher, e colaboradora, de Alain Cavalier, Françoise, pedindo-lhe que as repassasse ao marido. Ele estava filmando, meio incomunicável, e agora Françoise me enviou as respostas. Adorei o debate sobre Cavalier no Instituto Moreira Salles, no Rio, sábado à tarde, na abertura da retrospectiva que o Festival É Tudo Verdade dedica ao diretor. O debate, em si, virou um trailer da retrospectiva, porque houve sei lá que problema com o sinal da Rain e o filme que deveria ter aberto a mostra não passou, o que levou o público carioca a fazer piada. As chuvas, e agora a 'Rain', realmente não poupam o Rio.  Havia uma plateia reduzida, mas interessadíssima, integrada, entre outros, pelos cineastas Eduardo Escorel e Sílvio Da-Rin, pelo crítico José Carlos Avellar e pelo montador dos documentários de meu ex-editor, Evaldo Mocarzel, o Marcelo Moraes. Foi bem legal. Pois recebi as respostas de Cavalier, que vai numa linha oposta à de Cameron. Diz que, para ele, não existem distinções do tipo 'ficção' e 'documentário' e, o mais interessante de tudo, Cavalier se coloca na posição do observador. 'Imaginação', que eu lanço aqui entre aspetas, é uma palavra que não consta do seu dicionário fílmico. Sensacional e eu quero mais é que existam Cameron e Cavalier, sem necessidade de ter de optar por um ou outro, como se fosse uma via a seguir, sem desvios. Conversei agora de manhã com outro diretor francês, Jean-Paul Lilienfeld, de 'La Journée de la Jupe', exibido no Festival de Berlim do ano passado e que valeu a Isabelle Adjani os prêmios Lumière e César, por seu papel como professora armada na sala de aula. O filme é punk, para se dizer o mínimo. 'O Dia da Saia' não estreou nos cinemas brasileiros, mas passa domingo no Eurochannel. Por conta disso, conversei com o Lilienfeld. Comentamos o cinema francês 'social' que tem feito sucesso no Brasil, filmes como 'Entre os Muros da Escola' e 'Bem- Vindo' - que ele prefere, o segundo, lamentando que Vincent Lindon não tenha recebido o César de melhor ator. Contei-lhe sobre a oposição Cameron/Cavalier e Lilienfeld, mesmo acreditando na 'diversidade', fez um reparo interessante. Disse que só a imaginação é limite para Cameron porque ele tem cacife parta fazer filmes de US$ 400 milhões. Já o Lilienfeld penou arranjar o dinheiro de seu filme com Adjani. A imaginação não é o limite, ele corrige. O limite é o orçamento. 'Imagino' que boa parte dos autores do cinema brasileiro vá concordar com ele.

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