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Uma geléia geral a partir do cinema

Huston (1)

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Caí duro quando recebi ontem o novo pacote de DVDs da Warner e encontrei ali dentro duas preciosidades que me deixaram tinindo. Não, não estou falando dos cinco filmes da série Superman, os quatro anteriores e o de agora, o Superman de Bryan Singer, do qual gostei bastante. As preciosidades de que falo são dois filmes de John Huston. A Noite do Iguana e Os Pecados de Todos Nós, que integra a caixa com três títulos de Marlon Brando, mas pode ser adquirido isoladamente (os outros dois são Júlio César e A Fórmula). Já escrevi aqui que pertenço a uma geração que não tinha muito apreço por Huston, porque achava que ele não era um autor. O próprio Huston dizia que não tinha um estilo nem nunca quis ter porque queria contar diferentes histórias e elas lhe pediam que mudasse, de filme para filme, para se ajustar ao que queria narrar (ou dizer). Tenho a impressão de que Ruy Castro e Sérgio Augusto diriam que o melhor John Huston é o do começo da carreira, representado por filmes como Relíquia Macabra, que foi como The Maltese Falcon se chamou no Brasil, O Tesouro de Sierra Madre e Uma Aventura na África, mas eu tenho, para mim, que o melhor foi aquele que surgiu a partir da descoberta psicanálise, com Freud, Além da Alma. Huston trabalhou com Jean-Paul Sartre, mas o roteiro deste último era infilmável e o diretor teve de reduizi-lo (com Anthony Veiller). Freud não é um grande filme - a opinião dominante é de que é 'frustrado', como o anterior Os Desajustados, que Huston dirigiu a partir do roteiro de Arthur Miller para sua mulher, Marilyn Monroe -, mas é importante porque liberou o diretor para atingir os pináculos de sua arte em filmes de recorte assumidamente psicanalítico como os dois que agoram saíram em DVD. Os anos 60 e 70 foram muito irregulares para Huston, que fez coisas horríveis, reconheço, mas avaliem - além desses dois, ele dirigiu Cidade das Ilusões, O Homem Que Queria Ser Rei, Roy Bean - O Homem da Lei, À Sombra do Vulcão e Os Vivos e os Mortos. Acho que Jean Tulard mata a charada quando diz que Huston, se nem sempre foi compreendido, foi porque pagou o preço de pertencer a uma geração intermediária - surgiu após os grandes pioneiros (Ford, Hawks e Walsh) e os rebeldes dos anos 50 (Aldrich, Brooks, Fuller e Ray). Mas vejam A Noite do Iguana e Os Pecados de Todos Nós. É o que de melhor posso desejar a vocês.

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